Agosto, 1976, de Estocolmo para o sul
Deixo Estocolmo. Tua figura ao longe me abana, na noite. Cheiro dos teus carinhos que ficaram. E da distância que se aproxima. De repente, já longe de tudo e ainda tão perto. O relógio marca quatro e vinte. Passa uma criança correndo. Mais uma manhã cinzenta. Queria te contar que tem comigo, no trem, um menino de circo húngaro que carrega trinta malas e fala alemão. Eu respondo no meu parco sueco. Traz um monte de cartas dos amigos do circo para as famílias. E um sorriso de olho torto. O trem entra na Alemanha do Leste. Mais tarde, desembarco em Praga. É tarde da noite e não encontro nenhum albergue. É difícil se comunicar. Pouquíssimas pessoas falam inglês ou francês. Um garoto que estava no trem se oferece para me alojar no quarto dele, numa casa de estudantes. Avisou que eu teria que acordar cedo para não ser descoberta. Levantei-me às seis e quando ia passando sorrateiramente pela portaria o porteiro me fez parar. Pediu meu passaporte e olhou demoradamente. Quando eu achava que seria presa, me liberou. Perguntei para a primeira pessoa que vi, uma senhora cheia de pacotes, onde era a estação de trem. Ela me levou até lá, onde deixei minha mochila. Fiquei andando por aquela linda cidade. Ao meio-dia entrei num restaurante simples. Não tinham cardápio em inglês. A única palavra que entendi foi ris. Pensei que na pior das hipóteses eu comeria arroz branco. Qual não foi minha surpresa quando me serviram um arroz doce. Depois do almoço, andei pela cidade velha, que ficava numa colina. Na hora do jantar, procurei um restaurante com 79