Apresentação Marcius Freire
Sim, são muitos verões! Distensos? Os verões da Miriam são as quatro estações! E, como estas, são variadas as cores, diversos os sons e múltiplos os perfumes que emanam de cada uma das páginas através das quais faremos tantas viagens. Aqui, pois que estamos embarcados no ballet mecânico de que toma parte o nosso planeta, não encontraremos apenas verões, mas também invernos. O primeiro e mais rigoroso deles, por ter se tornado tão longo e penoso para a nossa geração, levou-a a buscar, custasse o que custasse, uma primavera redentora. Esta, no entanto, parecia encontrar-se longe daqui, do outro lado do Atlântico. Sim, porque à nossa volta já quase não havia luz. Aquela última, a brilhar obstinadamente e que por três anos acenara com uma alternativa à nossa desesperança abrigando quem daqui era arrancado, se apagara um ano antes, esmagada pelo peso de botas renegadas e substituída pelo brilho infame das labaredas que fizeram arder o La Moneda. E aquele que era um refúgio às vítimas das botas brasileiras sucumbia à violência daquelas dos seus próprios algozes. Estávamos em 1974. O extenso inverno que se abatera sobre todos nós brasileiros já durava dez anos. Enxergar através da densa bruma que encobria a nossa América havia se tornado praticamente impossível. Portanto, reencontrar o 9