Rodrigo, porteiro noturno em Paris
Conheci o Rodrigo através da Bety. Ele trabalhava, na época, como porteiro noturno em um pequeno hotel perto da Gare de l’Est. Era bom de papo, lia muito e adorava cinema. Tinha ido passar um tempo em Paris. Matriculou-se no curso de cinema de Vincennes só para ter a carteira de estudante e, dessa forma, poder pedir uma carta de residente. Por conta dos seus horários no hotel, era difícil vê-lo completamente desperto. Estava sempre indo ou voltando de suas noites de vigília. Nos seus fins de semana de folga, ia muitas vezes a Deauville, uma cidade ao norte de Paris, para jogar no cassino. Nos encontramos, numa tarde flanando em St. Michel e entramos num café. Ele me contou que estava ficando viciado no jogo e gastava todo o seu salário no cassino. Já tinha pedido dinheiro adiantado várias vezes no hotel e não sabia mais o que fazer. Disse-me que quando se dava conta já estava na frente das máquinas caça-níqueis. Uma noite, fui até o hotel onde ele trabalhava para bater um papo. Quando cheguei, a pessoa que estava lá me disse que o Rodrigo tinha sumido. Passei noutro dia, à tarde, para falar com o gerente no hotel. Queria saber se tinha o seu endereço. Ele me recebeu educadamente. Disse-me que a dívida que o Rodrigo tinha com o hotel era enorme. Ele foi pedindo cada vez mais dinheiro emprestado. Não conseguia pagar os empréstimos, que foram se acumulando. Seu salário só servia para pagar a dívida. Começou a chegar atrasado e a beber em serviço. Enfim, o gerente lhe deu um prazo para quitar a dívida. Ele disse que ia conseguir o dinheiro, mas nunca mais apareceu. 95