LiteraLivre Vl. 6 - nº 31 –Jan./Fev. de 2022
Reinaldo da Silva Fernandes Brumadinho/MG
Esse Alex! “Você deve saber como entrar e como sair de qualquer lugar.” Quem me ensinou isso foi uma semianalfabeta. Letrada, no máximo. Minha mãe era uma sábia. Talvez fosse isso que a Escola devesse ensinar a nossa garotada: a se virar no mundo, a ser capaz de se virar nele, se comportar nele. Fui ontem a uma festa de um casal de amigos, grandes amigos. Sou trabalhador assalariado, eles são pequenos empresários, proprietários de uma loja de calçados. Em muitas coisas somos diferentes, temos visão de mundo diversa. No entanto, em muita coisa temos convergência. É isso que nos une. Ele vem de família tradicional de minha cidade, casado com uma sobrinha querida, de família pobre, mas que, agora, pensa como ele, pelo menos são muito parecidos. Trabalham muito, preocupam-se muito em ganhar dinheiro, sonham ser ricos. Ainda não são porém muitas vezes agem como se fossem. Além de nós, minha esposa e eu, estavam na festa outros amigos, não muitos. E por não sermos muitos, ficamos na mesma mesa, uma mesa grande na varanda do sítio. Entre os convidados de nossos amigos, um casal,
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ela, nascida de família classe médiamédia; ele, nascido de família pobre. O pai, dela, herdou do avô – que herdou do bisavô e que herdou do tataravô, que herdou lá do rei de Portugal - um cartório. Ainda no tempo do pai, o cartório cuidava de tudo, monopolizando os diversos eventos e sem concorrência. Registro civil, Tabelionatos de notas e de protestos, Registros de imóveis e de títulos, era tudo ali. Estima-se que uma pessoa física recorra aos serviços cartorários pelo menos dez vezes em sua vida. Daí pode-se imaginar o lucro fácil, até porque as taxas são muito altas e delas o cidadão não tem como escapar. Quando me lembro de seu pai, lembro-me dele no PFL – Partido da Frente Liberal -, sempre com um copo de uísque na mão. Seguiu a carreira do pai, estudou, passou no concurso público, recebeu a concessão de um cartório no norte do país, enriqueceu em pouco tempo. Ele, professor, oriundo de família pobre, casou-se com ela. Agora, pensa como ela, pelo menos são muito parecidos. Durante toda a noite, o casal rico não contou uma piada sequer. Não deram nenhuma gargalhada. Não