LiteraLivre Vl. 6 - nº 31 –Jan./Fev. de 2022
Ricardo Ryo Goto São Paulo/SP
Problemas de relacionamento geralmente ocorrem em função das falhas na comunicação entre as partes, ou seja, o que um fala e o que o outro entende. Algumas lições aprendidas na disciplina de gramática e literatura me fizeram olhar para a comunicação verbal de maneira a poder enxergar nas “entrelinhas” as disposições e intenções de quem está falando, entendendo melhor o que querem dizer. Refiro-me aos recursos de estilo ou figuras de linguagem. -Olha aqui, moleque, se você fizer isso novamente vai apanhar até ficar branco.
-Cata o quê ? Minha mãe exagerava tanto com essas ameaças quanto os alunos da Corleone quando eu tive minha primeira briga com o Caruso e eles espalharam como eu tinha arrancado os olhos dele, os dentes e o couro e também havia surrado a sua família. Enquanto caminhava até o ponto do ônibus, o Jerome gritou: -Oi carinha que mora logo ali, me arruma uma verdinha.
-Hipérbole.
-Metonímia.
-O quê ? Tá me desafiando ?
-O quê ? Tá tirando uma da minha
-Não, mãe, a senhora tá dizendo uma coisa exagerada, impossível de acontecer. Esse tipo de expressão se chama hipérbole na gramática. -Ah, bom. É como eu dizer que posso ficar desempregada porque seu pai tem 2 empregos… -Não, isso é uma antítese, o uso de 2 termos contrários, desemprego e emprego. Mas não deixa de ser um exagero da senhora... -Deixa pra lá; Pega suas coisas e vai pra escola. Cuidado ao embarcar no ônibus. -Catacrese.(uso de termo inadequado)
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cara ? -Sinédoque. -Como é que é, vai dar ou não ? -Calma, só tava explicando que figura de linguagem você estava empregando. -Olha aqui, eu não ninguém, eu trabalho sozinho.
emprego
-Quando você falou em “verdinha”, estava se referindo a nota de um dólar que tem essa cor. Isso é metonímia. Quando falou que eu estava tirando uma da sua “cara”, estava se referindo a sua pessoa como um todo, isso é uma sinédoque.