LiteraLivre Vl. 6 - nº 31 –Jan./Fev. de 2022
Teófilo Lemos A. Filho
Por que a lua segue as crianças? O sol do crepúsculo me bate nas vistas
e
me
faz
por
um
momento
veria por ele. O carrasco, sem dizer nada, aproxima-se de mim e, com
repugnar a subida na escada, sou logo
um
cutucado na altura de uma costela pela
cadeira que me sustentava ao solo…
baioneta daquele soldado incumbido de
pontapé O
meu
desalmado, café
está
retira
a
chegando,
conduzir-me. Subo as escadas, vejo de
termino de ler a coluna do jornal
cima do meu palanque, o povo vaiando-
municipal antes de adoçá-lo. Está
me e mirando frutas podres em minha
excepcional,
pessoa, mas por quê? Por que odeiam-
Maria se puxou! Enquanto aprecio
me? Estou certo que minha morte vale a
essa maravilha líquida, meia amarga
pena! A corda é posta no meu pescoço,
e meia doce, observo as pessoas que
como pinica! Ela também está muito
passam pela rua. Coisa prazerosa,
apertada, não consigo puxá-la um pouco
mesmo que todo dia a faça. Vejo
mais para ajustá-la ao meu pescoço,
passar uma ou outra criança nos seus
minhas mãos estão atadas às costas. O
uniformezinhos escolares e com os
padre faz a extremulsão, não sei a razão
sapatos de couro pendurados pelos
já
cadarços no ombro para não sujar.
que,
como
dito,
arrependimentos,
estou
não
tenho
convicto
como
sempre,
Dona
de
Uma vem de lá correndo ao lado de
minha cruzada pelas crianças. Há uma
um guapequinha, um cachorro de
criança bem à frente do palanque, eu a
pelos dourados e emaranhados, os
reconheço de antes, ela atira-me uma
dois brincam e pulam um com o outro
pedra que bate no meio da minha testa.
em brincadeira tão doce. Que doçura
Sorrio. Ela não sabe, mas salvei-a! As
é
gotas de sangue escorrem pela face e
dessas crianças? Onde foi que eu
cobrem um de meus olhos, cegando-o
mesmo perdi minha criança? Onde
bem dizer para sempre, nunca mais
morreu o Zezinho e onde nasceu o
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essa
que
percorre
pelas
veias