LiteraLivre Vl. 6 - nº 31 –Jan./Fev. de 2022
Benjamim Franco Taubaté/SP
Pisando duro Levou um tempo até sentir o frio da
Decidiu
que
ele
é
quem
iria
manhã. Não no rosto, e nem nas mãos –
aguentar, mas após alguns passos,
já estavam vermelhos do vento gelado –
acertando o chão com o calcanhar,
mas sim nos dedos do pé.
percebeu que não adiantava. A sola
“Ah, meleca”, ele disse, olhando
soltava, abrindo sem fechar, e foi só o
para o pé esquerdo. Seu tênis, de um
riso de uma criança que fez ele
acinzentado
perceber o quanto a situação era
desbotado,
virou
um
fantoche chulo: olhos de ilhós, nariz de
engraçada – pra todos, exceto ele.
bico remendado com cola, e agora, uma
“Por que é que isso acontece
sola que abria a boca, mostrando uma
quando estou atrasado”, sussurrou,
língua de meia para todo mundo na rua
contando os passos até um lugar
ver, e para o tempo encharcar.
onde desse pra sentar, pra usar de
“Era pra você aguentar”, ele disse,
bancada, jogar esse problema pra ser
pensando alto demais. Uma senhora
resolvido mais pra frente. Viu um
cansada olhou para ele – mas o resto
degrau de loja – fechada, pois era
dos pedestres fez a coisa óbvia, e o
cedo, e cinco minutos bastariam.
ignorou, como deve ser. Mas
tenho
na
perguntava.
A
remendar, simples, até: um isqueiro e
e ainda faltava tempo demais até sua
um bastão de cola quente resolviam
próxima folga, e você sabe como é
quase tudo, e a prova disto é que os
estressante trabalhar em
buracos da lona seguiam fechados. Mas
semana, e – “Cuidado!” gritou um
fechar uma sola, e assim na rua…
ciclista, que quase o jogou pra fora
fáceis
da calçada.
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se
eu
semana estava corrida, insuportável,
eram
ele
que
de
cabedal
“aguentar”?
é
mochila”,
no
fazer
que
Os
furos
como
“O
final de