LiteraLivre Vl. 6 - nº 31 –Jan./Fev. de 2022
Beny Barbosa Fortaleza/CE
A esquecida A sala de estar estava vazia e em silêncio. As cortinas bailavam ao sabor do vento que chegava da praia. Eu gostava de ficar na varanda sentindo o cheiro que vinha do mar, mas não gostava muito de ficar melecada de maresia. Aquele vento frio trazia algo de melancolia. Percebi que o cachorro de Vera dormia tranquilamente. Eu me sentia no paraíso, pois Nininho, o filho dela, havia ido para a creche, não havendo ninguém para puxar-lhe o rabo. De repente, escutei um barulho vindo lá de dentro. −Seria um ladrão?! pensei Fiquei em silêncio, assustadíssima. Logo, lembrei-me que poderia ser Zuzu, a diarista. Ela era muito desastrada e sempre derrubava tudo. Fiquei aliviada. O abandono nos leva a pensar na vida, e em nós mesmos: −O que era eu antes de ser o que sou? filosofei fundo. Lembro quando cheguei nas mãos de Vera, eu era bem novinha, linda... A vida pulsava em mim. Eu adorava quando saíamos juntas, lado a lado. Não nos despregávamos nunca. Chegávamos cansadas e eu adormecia bem juntinha com você. Foram os melhores anos da minha vida. Eu me lembro muito bem daquela vez que você me levou para irmos a uma festa. Fiquei toda animada. O laço feito de um tecido brilhante me deixou ainda mais charmosa. Entramos juntas no clube. A música que estava tocando parecia ser feita para nós duas. Você procurou uma mesa que fosse posicionada de forma que olhássemos sem dificuldade para toda a área da dança. Você pediu uma taça de moet chadon, acendeu uma cigarrilha e me pareceu a mais chique de todas. Não demorou muito, e um rapaz elegante se aproximou e a convidou para dançar. Quando fiquei sozinha, senti um pouco de ciúmes, mas compreendi e aceitei a minha condição. Na volta para casa, o celular tocou. Era o rapaz que havia passado a noite toda dançando com você. Ele disse que já estava com saudades. Depois, ele acabou virando no seu marido. −Adoro o Gonzaga, ele é um fofo!
25