LiteraLivre Vl. 6 - nº 31 –Jan./Fev. de 2022
Dias Campos São Paulo/SP
A serenata D. Amélia e seu Deodato conheceram-se em noite de gala, quando da inauguração do Clube Pinheiros, em São Paulo, no Réveillon de 1957. Naquela noite, ele, médico em ascensão, apaixonou-se pela linda estudante secundarista assim que a viu, tão deslumbrante estava. Só havia um único senão que o impedia de ir convidá-la para dançar: a carranca paterna... Esse superado engasgo.
obstáculo, contudo, foi graças a um providencial
E como Deodato era o único médico disponível, tratou de abraçar o pai da adolescente por trás, ao mesmo tempo em que pressionava repetida e violentamente o seu abdômen. Isso fez cuspir o entalara na garganta.
camarão
que
Essa façanha não apenas garantiu ao jovem clínico vários agradecimentos, como lhe franqueou a mão da filha à próxima dança. Três anos depois, aproveitando-se da recém-escrita letra à valsa Rapaziada do Brás, Deodato e alguns amigos acordaram Amélia em serenata, aos pés
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da janela do sobrado onde morava. – É claro que seus pais também despertaram. Mas se mantiveram escondidos, quietos e na torcida. Ao final, casamento.
ele
a
pediu
em
Ela aceitou, e os futuros sogros vibraram de alegria. Mas se é verdade que o galanteio por meio das serestas foi-se apagando com o passar dos anos, também é exato afirmar que a lembrança daquela noite jamais se extinguiu com o transcurso das décadas. E foram tantas!... Nenhuma deixou de ser comemorada. Aliás, a cada decênio alcançado, Deodato fazia questão de presentear sua esposa com um objeto recomendado pela tradição. Até hoje ela guarda, e com todo o carinho do mundo, a taça de estanho, o bibelô de porcelana, o colar de pérolas, os brincos de esmeraldas e o bracelete de ouro 18K. Depois das bodas de ouro, ninguém na família ousou imaginar que o casal comemoraria sessenta