LiteraLivre Vl. 6 - nº 31 –Jan./Fev. de 2022
Eni Ilis Campinas/SP
Formiga A um passo de meu próprio espírito A um passo impossível de Deus Atenta ao real: aqui Aqui aconteço. (Orides Fontela)
Talvez, chegue o tempo em que as formigas leiam Kierkegaard. A formiga na pétala da flor, não é algo a se estranhar. A flor no vaso trincado, não é algo a se estranhar. O vaso trincado na mão ossuda, não é algo a se estranhar. A mão ossuda com luva, não é algo a se estranhar. Que todos concordem e concordam que a luva foi necessária para não sujar a mão ossuda. Que todos concordem e concordam que a mão ossuda tenha que segurar o vaso trincado. Que todos concordem e concordam que no vaso trincado tinha flor e nesta a pétala em que estava a formiga, indecisa formiga. Não sabia se dava o passo adiante ou atrás, porque não sabia se a sombrinha abriria no exato momento em que tivesse que abrir. Todas às vezes que testou, quase funcionou, quase falhou e ela não sabia se daria certo na hora em que deveria dar certo. Indecisa formiga na pétala da flor. Tão certa do caminho. Tão certa da pétala. Tão incerta do próximo passo. Contudo, a pétala bem firme na flor que está bem firme no vaso trincado segurado bem firme pela mão ossuda com luva. O trincado do vaso , contudo, não dúvida de seu próximo passo e avança lento e empurra a terra que não resiste e se deixa empurrar e empurrada cai e fica aqui e depois em outro aqui, a cada fôlego renovado de queda. E a formiga tão incerta com sua sombrinha na pétala da flor, não se volta para trás e não se decide ir além, ao contrário da mão ossuda enluvada que segura o vaso trincado. Vai além num ir tão reto que nem parece se mover. No chão, a terra caída testemunha
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