LiteraLivre Vl. 6 - nº 31 –Jan./Fev. de 2022
Gil Moreira Recife/PE
O Estrangeiro Imagine uma longa estrada estendida até o limite do nada. À beira dessa estrada situa-se um luxuoso palacete, um casarão de paredes em pedras douradas, com uma majestosa fachada repleta de detalhes em arabescos e rebuscamentos que a todos que por ali passavam, encantava. Sua cobertura é forrada por telhas de cerâmica e por dezenas de placas metálicas que, quando vista assim de cima, deixa entrever efeitos reluzentes em muitos brilhos e cores matizadas. No topo de suas duas torres laterais, cada uma com uma pequena janela quadrada, jazem duas estátuas de aves feitas de bronze, todas elas em posição de ataque. Sua única entrada, localizada no centro da construção, abre-se arqueada e é protegida por uma grande porta de ferro maciço. Nessa imponente residência, mora o psicopata de nome Dasman. A sua mente é como a paisagem que se descortina em frente à sua mansão, uma estrada áspera e desértica que nas manhãs de sol incandescente, por sobre o seu tapete pedregoso, produz um espelhismo, efeito ilusório que abre um reflexo luminoso por sobre o seu asfalto abrasivo e penoso. Uma mente árida e
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seca, tão agressiva e rude quanto o que há de mais ríspido, cortante e bruto. Postada no meio da rodovia fantasma, a suntuosa habitação observa, com seus olhos de janela, a escaldante pavimentação ladeada pela planície de mato cinzento, pelas árvores de troncos carcomidos e em galhos secos. Enquanto isso, ali no interior de seu casarão o Dasman planeja, conspira e arquiteta o passoa-passo de sua próxima maquinação. Sua mania? Fazer com que todos e todas se inclinem, se enquadrem ao seu sistema de pensamento, déspota e opressor. Em seus aposentos, o maníaco mantém, sob o melhor estado de conservação, muitos de seus instrumentos de tortura e despersonalização: chicotes, forquilhas, garrotes, dezenas de ferramentas cortantes, esmagadores, manivelas. Mas além de todos esses aparelhos de correção, ele também abriga, a todo zelo, um ideômetro, dispositivo medidor de pensamentos capaz de indicar quais os níveis e preferências ideológicas de cada indivíduo. Um, para os jugulados compatíveis. Dois, para os tipos