LiteraLivre Vl. 6 - nº 32 – mar./abr. de 2022
Iraci Marin Caxias do Sul/RS
Ambígua Não foi por amor, mas por necessidade, que ela fugiu de sua cama.
sombras internas que cresciam dentro dela, sem foças para impedir.
Vivia sentindo o fracasso e a frustração do sexo e não via alternativa para satisfazer o seu desejo. Ou a sua necessidade. Muitas vezes criou fantasias, mas sempre tudo acabava na amarga realidade da falta.
Ele a viu bordando. Chegou devagar, sem que ela percebesse, e perguntou:
Com diabetes agressiva, há algum tempo a energia do marido murchara. Ela tinha ainda um forte motivo pra se afastar dele, inclusive durante o dia: carregava quase sempre o odor fedido de fumo. Dormir ao lado dele muitas vezes era um sacrifício.
Ele deu uma risada forçada e saiu, deixando a varanda impregnada do cheiro azedo de fumo.
A solução foi dormir em outro quarto. Pelo menos conseguiria dormir. Sim, e podia ficar nua, ver seus seios no espelho, seu ventre liso e branco, suas coxas, e se acariciar sem medo ou pudor. Mas isto não era suficiente. Ela precisava dar-se uma resposta, apaziguar de verdade o seu corpo. Um dia, inventou de escrever seu nome numa calcinha rosa, cheia de pequenas flores rosadas. Era a sua preferida: bonita, macia, e guardava bem o seu cheiro. Não tinha qualquer intenção com aquilo, apenas um capricho. Talvez servisse pra espantar
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- Pra que isto aí? - É coisa minha, passatempo.
Traçou seu nome com linha vermelha na parte da frente da calcinha. Terminou o trabalho, levantou-a para ver como tinha ficado e sorriu. Era certamente a única peça íntima personalizada da terra. Colocou-a após o banho e se sentiu como se fosse a primeira vez que a usava e parecia que a sua vida estava completa. Era apenas impressão momentânea. Vivia a mesma vida vazia de muitos anos. Mas um caso trouxe ingrediente novo para a sua vida. Estava caminhando distraidamente por uma rua bem movimentada, quando esbarrou em alguém. Parou em seguida, voltou-se para pedir desculpas, ele fez o mesmo, e seus olhares se abriram em