LiteraLivre Vl. 6 - nº 32 – mar./abr. de 2022
Jonas Maffei Botucatu/SP
Cai Sobre a Tarde a Sombra da Ternura e da Angústia A janela entreaberta no meio daquela
rosto, fazendo reluzir aqueles olhos
parede
de
cor de caramelo flambado e aquela
infiltrações deixava entrar na cozinha
tez meio enigmática, clara, mas nem
gélida daquela casa uma luz incólume
tanto, alaranjada e, não obstante,
que vinha a bater bem em uma das
com um toque de roxo e às vezes
maçãs do rosto daquela jovem que, por
fazendo lembrar terra boa e fértil
menor que fosse o tempo que eu a
batida, me hipnotizava. Seu singelo
conhecia (eu a conheço?), já havia me
sorriso, que não deixava surgir na
encantado
Naquele
face nenhum dente, os olhos de
caótico cenário de precárias residências
caramelo caídos nas próprias mãos
e
que
cinza,
barracos
fria
e
tomada
tremendamente. subindo
morro
acima
e
mexiam
uma
na
outra
compondo uma pretensiosa montagem
inquietamente em seu colo, assim
artístico-distópica, por entre estreitas
como
vielas e veredas urbanas ou suburbanas,
reluzente, meigo e cheio de ternura,
se encontrava a casa em que nós nos
que ela dava muitas das vezes que eu
encontrávamos.
arriscava dizer alguma besteira para
Vi,
por
um
curto
o
sorriso,
maior,
tentar
ares lado a lado e relacionei, quase que
arrepio frio e agradável, ou coisa
automaticamente, aquela vista a uma
parecida. Ela então me olhava e ria,
fantasia
às
melodramática
vezes
me
sim
intervalo, dois pombos subindo pelos
clichê
entretê-la,
este
pouco,
davam
às
um
vezes
envolvendo eu, claro, a meiga moça de
copiosamente, e me encarava por um
óculos e moletom a duas cadeiras de
tempo com o primeiro sorriso; às
mim e o passar de muitos e muitos
vezes
anos. Tudo numa questão de poucos
besta que me fazia também, claro,
segundos. A luz que lhe iluminava o
quase que independentemente de seu
119
respondia
algo
igualmente