LiteraLivre Vl. 6 - nº 32 – mar./abr. de 2022
Luís Lemos Manaus/AM
Brincando com os anjos Rodrigo era uma criança que tinha especial encanto pelas coisas sagradas. Aos cinco anos de idade, quando a sua mãe lhe explicou sobre a importância da oração na vida do cristão, ele lhe perguntou: – O que é ser cristão, mamãe? – Ser cristão é ser seguidor de Jesus Cristo, meu filho! – E onde Ele mora? – Ele mora lá no alto, no céu, junto com os anjos! – Mamãe, eu quero morar lá no alto com Ele e com os anjos. Rodrigo era filho único. Morava com sua mãe e sua avó materna numa propriedade rural, no interior do Estado do Amazonas. Seu pai abandonou a família assim que soube da existência de Rodrigo, dizendo para os seus “amigos” mais próximos: – “Esse filho não é meu”. Com muita dificuldade, sua mãe conseguiu completar o período da gestação e Rodrigo veio ao mundo no dia 08 de dezembro de um ano qualquer do século XXI, dia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira do Estado do Amazonas. Quando Rodrigo cresceu um pouquinho, sua mãe voltou a estudar e
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concluiu o curso de “Cuidador de Idosos” junto aos índios da região. Em seguida, conseguiu um trabalho no povoado mais próximo, Santa Luzia. Rodrigo foi crescendo muito solitário. Além das poucas pessoas que iam “pedir bênçãos" para a sua avó, poucas pessoas apareciam por lá. O mundo de Rodrigo era o universo dessas duas mulheres: sua mãe, uma “enfermeira” que passava o dia todinho fora de casa por causa do trabalho e sua avó, uma mulher espiritualista que vivia dentro do quarto, cercada por cristãs, incensos e imagens de santos; ouvindo músicas celtas e recitando salmos. – Mãe, vamos sair um pouco? Vejo que a senhora está muito em casa, sozinha, sem amigas, sem ninguém! – Não, filha! Estou bem onde estou e como estou. – Já disse, a senhora precisa ver gente. – E eu já lhe disse, eu estou bem! Deixe-me com os meus afazeres. Eu sou feliz assim, sozinha! Não preciso de ninguém. – Nem de mim?