LiteraLivre Vl. 6 - nº 32 – mar./abr. de 2022
Paulo Luís Ferreira São Bernardo do Campo/SP
De Arabel os Dias de Naomir Imagem: Foto/montagem Photoshop
“Diante da vastidão do tempo e da imensidão do universo, é um imenso prazer para mim dividir um planeta e uma época com você”. (Carl Sagan) Ontem fui à festa na casa de minha amiga Naomir. Revelo: não gostei do que vi quando lá cheguei. No centro da sala um relógio de pêndulo marcava as horas sem precisão, se era zero toava doze vezes o carrilhão. Um grupo de pessoas cantavam Ave- Maria, outro respondia ora-pro-nóbis. Os círios acesos queimavam cheiros de alfazema, mirra e jasmim, inebriando o ar. Rasguei-me a camisa e sequei meu pranto. Consternado desci às escadas do décimo quarto andar. E, naquela postura atordoada, cheguei ao rés do chão. As ruas estavam molhadas, opaca. A madrugada era de cinzas; os paralelepípedos salpicados de lantejoulas e areia prateada, o sinal fechado e o trânsito parado. Entrei no carro.
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