LiteraLivre Vl. 6 - nº 32 – mar./abr. de 2022
Saulo Barreto Lima São Luís/MA
À Deriva “Não se faz um bom nadador dentro de um barco.” Imagine uma embarcação qualquer, que comporta um número considerável de pessoas se deslocando de um ponto a outro, notadamente, de uma terra firme a outra. E aqui, sugiro que pensemos numa travessia de um trecho do mar ou de um rio, levando em consideração que essa distância seja ampla, se comparada a capacidade física de uma pessoa mediana. Idealize, igualmente, que no meio dessa embarcação – como disse, absurdamente comum como qualquer outra, com pessoas viajando, apensadas as suas bagagens e normalmente ansiosas por chegarem aos seus respectivos destinos – um sujeito qualquer decide pular na água. Isso mesmo, repito: numa referida embarcação com pessoas viajando de um lugar para outro, um desses tripulantes abandona a nau, decidindo se apartar de seus semelhantes, pulando no mar ou num imenso rio, como queiram. A primeira vista, não havia nenhum motivo plausível para que o mesmo tomasse essa atitude, nem por parte dos passageiros, nem muito menos por conta das condições do barco. Uns conversavam, se distraíam com algum dispositivo eletrônico, já outros dormiam... Ninguém o havia
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distratado, nem muito menos ofertado um mínimo de incentivo para o que mesmo fizesse aquilo. Como ficara quieto e calado a viagem toda, assim permaneceu, até que saltasse barco afora. Aliás, não haveria, nem necessitaria justificar o seu ato a ninguém dali. Ele não conhecia ninguém, nem ninguém o conhecia. Ressalte-se, também, que o sujeito, tenha pulado somente com a roupa do corpo, sem nenhum auxílio de nenhuma boia ou colete de salva vidas, que, diga-se de passagem, o barco possuía em abundância. Relevante afirmar, também, que não se tratava de um suicida, esquizofrênico, louco ou qualquer outra tipologia clínica patológica fora dos padrões psicológicos toleráveis socialmente. Um ou outro passageiro olhou o mesmo pulando. Uns, deram com os ombros, retornaram para os seus respectivos aposentos e seguiram suas viagens normalmente, como se nada tivessem visto. Não se chocaram, nem se alegraram com aquilo. No máximo, como reflexão pessoal - face ao fato presenciado extrairiam somente de que não teriam coragem de fazer o mesmo.