LiteraLivre Vl. 6 - nº 32 – mar./abr. de 2022
Cristiane Ventre São Paulo/SP
Saudades daqueles tempos A mesa era grande, de madeira maciça. Havia lugar para oito pessoas, mas em dias de festa buscávamos mais cadeiras no cômodo dos fundos, onde ficava a máquina de lavar roupas. Empurrávamos um tanto a mesa para abrir espaço para mais um lugar próximo a janela. E perto da janela sentava minha avó. Que criatura mais simpática era minha avó! Não havia quem não gostasse dela! E como eram gostosos os bombons de licor que ela fazia questão de trazer para cada um de nós. Faltavam cadeiras, enfim, para acomodar toda a família. Mas o sentimento de estarmos compartilhando bons momentos no dia de Natal, era gratificante. A toalha florida, com tema festivo, o som dos talheres nos pratos, vozes empolgadas conversando a mesa, as horas passavam alegres. Ou nem víamos talvez o tempo passar! Quando os momentos são bons, nem vemos realmente a hora passar! Naquele tempo, meu pai ficava na cabeceira da mesa. Era presença marcante. Tinha mãos fortes e grandes, desgastadas pelo trabalho árduo de uma vida inteira. Mãos engenhosas que sabiam consertar e criar objetos. E ele era um inventor! Quantas coisas foram
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criadas por ele dentro daquela casa! Apesar de sua aparência forte, seus olhos tinham doçura e pareciam sorrir. Ele era generoso e sabia receber as pessoas em casa. As comidas tinham o sabor da festividade do Natal. Minha mãe fazia a lasanha, a carne assada com batatas, encomendava-se o peru. Minha irmã trazia o salpicão. A mesa ficava cheia, a casa animada. Sempre havia alguém que pedisse o cafezinho após o almoço. E lá eu ia preparar o café: três xícaras de água para três colheres cheias de pó de café. Usávamos o coador de pano. Preparava-se doce com goiabas brancas, que eram colhidas no quintal. Que perfumado era aquele doce! A conversa continuava à tarde no quintal ou na sala. E havia o momento de bater uma fotografia. Eu tomava a frente para tirar as fotos. Quando o dia terminava, nossos familiares iam embora sempre levando um pratinho e boas lembranças. E assim foram muitos anos. Temos os álbuns de fotos guardados, que confirmam nossos semblantes alegres. As fotos são documentos