LiteraLivre Vl. 6 - nº 32 – mar./abr. de 2022
David Leite
O temporal “Somos da mesma substância que os sonhos” William Shakespeare, A Tempestade
Antônio era seu nome. O meteorologista
tempestades.
real que há muito participava das cortes
sibilava
oferecendo seu ofício. Não era de se
cortando a vela e os balaustres sobre
admirar sua imprescindibilidade a um
os quais se debruçava para vigiar o
reino
mar extenso. Tentando soar mais alto
que
prosperidade.
almejasse O
qualquer
conhecimento
dos
o
Em vento
um
momento,
como
chicotes,
que a tormenta, Antônio grita para
mares, das precipitações e ventanias era
seus
tesouro para a agricultura do estado e
Protejam-se!
para qualquer sanha colonizadora que
Seu grito morre com o rugir dos
quisesse
ventos
aventurar-se
em
mares
companheiros
de
inclementes,
viagem.
entretanto.
alhures. E era essa a função que exercia
Tentando nivelar a incerteza de seus
naquele momento, lotado em uma das
passos, Antônio vacila pelo convés,
naus exploradoras de seu atual reinante.
sendo fustigado ao chão mais vezes
O mar rumorejava pacificamente abaixo
que pôde contar enquanto procurava
dele, e as nuvens níveas não ensejavam
algum apoio firme para que pudesse
qualquer ameaça. Na falta da fúria dos
manter-se
ventos, sentia-se quase inútil. Como se
chacoalhava como se toda a sua
o risco de tempestuosos vendavais fosse
estrutura não passasse de uma casca
o
e
de nós, e a água escachoava pelo
equipamento, inda que pudesse vitimar
chão formando um arroio apressado e
seus camaradas de convés. Afastou o
derrubando todos os homens. Os
pensamento de ócio no momento em
clarões dos relâmpagos não tardaram
que viu, avolumando-se no horizonte, o
a encontrar seu papel no tétrico
que
negrume
justificasse
seu
empenho
característico
das
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seguro.
Mas
o
barco