LiteraLivre Vl. 6 - nº 32 – mar./abr. de 2022
Elton Sipp
Uma Organização Desorganizada Os livros no nicho estavam organizados de forma desorganizada de propósito. Era uma tentativa de superar ou, pelo menos desafiar, o TOC (transtorno obsessivo compulsivo), algo que ela talvez leu em alguma revista ou assistiu algum vídeo na internet. Ela não sabia muito bem se estava funcionando, mas escolheu insistir mais um tempo na “organização desorganizada”... Ou como quer que se chame essa estratégia. Ela estava deitada na cama, acordada a algumas horas, o cara que ela conheceu na noite anterior, com quem veio para casa, estava deitado do lado, de bruços. Roncava baixo. Muito menos irritante do que outros com quem ela já dormiu. Era mais uma respiração profunda, não um ronco de verdade. Pensou em quantas noites fez isso... Sexo sem motivo, só por alguns momentos de prazer. Aliás, prazer que nem sempre acontecia. Sabe como é, né? Mas, ela não queria pensar nisso agora. Estava preocupada pensando no que fazer e em como fazer... De alguma forma parecia que estava revisando toda a sua vida nos últimos dias. Alguns chamam de crise de meia idade, mas ela não conseguia ver assim. Só queria algumas coisas um pouco diferentes, um pouco melhores. Talvez descobrir onde
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foi que ela parou de realizar o que sempre foi seu sonho. Temos disso às vezes. Começamos a nos absorver nos afazeres do dia a dia, nos compromissos e responsabilidades que vão surgindo. E com isso esquecemos de realizar nossos sonhos. Sabe aquele sonho de criança? De salvar o mundo, de tocar as nuvens, de encontrar um dinossauro. Ou qualquer outra coisa parecida. Em algum ponto da vida, por algum motivo, esquecemos de realizar. Não é que a gente deixa de sonhar isso de um momento para o outro, isso meio que se desfaz, como uma névoa da madrugada que se desfaz quando o sol começa a aquecer ela. Sabe como é? Nas últimas duas semanas ela pensava nisso com mais intensidade. E nessa manhã, uma manhã de sábado, depois de bastante álcool, muita agitação e mais uma noite com um estranho, ela acordou no fim da madrugada pensando sobre tudo isso de novo. O sol começou a clarear o lado de fora da janela e as pequenas frestas permitiam que a luz começasse a ficar mais forte. Levantou e fez um café preto, ela queria mesmo era o açúcar de uma Coca-Cola para curar