LiteraLivre Vl. 6 - nº 32 – mar./abr. de 2022
Gigi Locateli Chapecó/SC
Foi só um sonho! Eu sentia o balanço do elevador enquanto descíamos. Queria acreditar que aquilo era um sonho ou talvez mais um dia quente no deserto. Não podia ser real. Quando o elevador parou e sua porta abriu, eu pude ver como tudo era acinzentado ali e quente, muito quente. Eu sentia meus poros transpirarem, meu coração acelerar e um desejo enorme de voltar para cima. Ao mesmo tempo em que reconhecia aquele lugar e era tomada por lembranças desagradáveis. Como que pressentindo as minhas lembranças, ele me disse: Você foi resgatada daqui. Eu não queria acreditar que aquele já fora meu lar. Eu só via uma devastação gigante, um mundo em tons marrons e cinza, um lugar que só poderia ser castigo para as almas. Mas eu não podia explicar as lembranças que tinha sem reconhecer que já estivera ali no passado. Caminhamos um pouco em uma direção qualquer, pois ali todas as direções pareciam levar a lugar nenhum. Vi algumas pobres almas vagando por ali em desamparo, enquanto outros as dominavam com violência. Era aterrorizante e senti reavivar um medo que eu não lembrava mais.
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Percebendo minha reação, ele me acalmou dizendo: - Eles não podem nos ver. Eu tinha lembranças da violência dos homens, me recordando de fugir, me esconder e enfrentá-los em alguns momentos. Lembrava de uma vida de revolta com a realidade. Uma revolta que me levou a ser violenta também. E, ainda observando as vítimas e seus algozes, questionei: - De que lado eu estava? - Dos dois. – Ele respondeu. Eu realmente conseguia me ver nos dois lados. Eu sentia que tudo o que eu via, existia em mim. Talvez eu tivesse sorte de não existir mais, mas tudo aquilo fazia parte da minha história e eu não podia fingir que nunca aconteceu, por mais que fosse esse o meu sincero desejo. Eu já tinha saído dali uma vez e agora queria sair novamente. Vi o elevador descendo e uma equipe de resgate chegar, recolhendo uma menininha que se escondia ao norte de onde estávamos. Presenciar aquele resgate me trouxe lembranças de quando fui resgatada. Naquela tarde, eu teria morrido pelas mãos de meu algoz se não tivesse recebido