LiteraLivre Vl. 5 - nº 28 – jul./Ago. de 2021
J. Melquisedeque Rezende Itagiba
Fragmentos inéditos de “Περὶ Φύσεως” (“Sobre a Natureza”), de Heráclito Traduzido de papiros gregos encontrados no sítio arqueológico onde se encontrava a Biblioteca de Alexandria pelo filólogo J. Melquisedeque Rezende Itagiba.
Tradução: Venho aqui mostrar-lhes um excerto da peça teatral Antígone, do notável Homero, para justificar o meu pensamento anterior: VINÍCIUS – Storax! (Vendo que o criado não responde, inicia-se um monólogo, que é um discurso a Antígone, que não aparece em cena.) Uma das primeiras coisas do Mundo das Ideias que o homem percebeu – ó minha estimada Antígone – foi a imortalidade da alma, e ele a notou a partir do momento em que um ente querido seu veio a falecer. Apesar desse falecido indivíduo ter deixado de viver no Mundo Material, ele deixou uma relevância tão grande na vida das pessoas com as quais convivia que consecutivamente estas sentiam saudade dele. Como é possível, porém, sentirmos saudade e lembrança de algo que não existe mais, mas passarmos a senti-la através de uma presença abstrata e uma conexão espiritual, metafísica, de sua alma em nosso quotidiano – que se trata do sentimento da saudade? Ora, isso se justifica no fato de que a alma é sem dúvida imortal, e, a partir do momento em que o corpo humano morre, é quando a alma sai do corpo por já ter cumprido o seu papel aqui no Mundo Material e vai para onde saiu, que é o Mundo das Ideias – resumindo e concluindo, nós voltamos de onde saímos após cumprirmos o nosso período aqui na terra. Só é possível ter recordações e sentimentos de coisas que já existiam, posto que se elas nunca tivessem passado pela terra e fossem dignas de ter sentimentos e afeições e/ou de serem lembradas, jamais haviam de existir, e para que elas existam é necessário que tenham alma, que é a parte divina do indivíduo. E a alma é singular do corpo, pois ela, ao contrário deste, não envelhece: Da mesma maneira que admiro o mancebo que possui interiormente em si mesmo, no seu espírito, algo do idoso, admiro o idoso que possui no íntimo da sua própria alma algo do mancebo: aquele que cumprir tal diretriz poderá estar envelhecido na carne, porém, na alma não há de sê-lo de modo algum. A alma não morre: ela retorna de onde veio.
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