LiteraLivre Vl. 5 - nº 28 – jul./Ago. de 2021
Joaquim Bispo Odivelas, Portugal
As mulheres da Paradanta As mulheres da Paradanta são o amparo da casa. Robustas e determinadas, ganharam admiração e proteção das deusas primordiais. A sua aldeia fica encravada entre montes atulhados de pinheiros nas faldas da serra da Gardunha, onde só é possível cultivar estreitas leiras junto ao pontos mais profundos dos vales. Por isso, sempre tiveram de obter complemento económico fora da pequena agricultura de subsistência. Às vezes, em atividades inesperadas e até longe da sua terra. São vistas desde sempre a carregar pesos à cabeça. Em grupo, em rancho. Decididas, caminhando e equilibrando os carregos, balançando as ancas cheias. Como os deuses gostam de contemplar o seu caminhar! Talvez por isso as tenham colocado ali, na Paradanta, para lhes fruírem a atividade, em vez da rigidez de antanho. Na década de 40, era comum vê-las a carregar caldeiros cheios de pedras com volfrâmio. O dinheiro do minério já lhes permitia comprar alguma massa ou arroz na venda da aldeia. Todas se lembravam e queriam afastar os tempos penosos da Guerra Civil de Espanha, com racionamentos e contrabandos. Os homens manejavam as enxadas a esburacar terrenos, e as picaretas a desfazer calhaus, um pouco por todos os
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montes das redondezas, onde vissem ou suspeitassem encontrar o apetecido minério negro e brilhante. Elas enchiam as vasilhas, punham-nas à cabeça e, pelo meio dos pinheiros, dos matos, das pedras, por fim por veredas, carregavam-nas até pontos combinados, onde as mulas podiam chegar. De etapa em etapa, o minério lá acabava por chegar aos Aliados. E aos Nazis. O comércio não tem ideologia. Umas atrás das outras, em filas espontâneas, tenteando o peso, abanando as ancas, iam e vinham lançando um ou outro canto com temática religiosa, mas reconforto pagão. Por vezes, Atena apiedava-se do esforço brutal das suas amadas paradantenses e, disfarçada como uma delas, ajudava-as, sem que elas percebessem. E afugentava algum condutor de mulas que, fiado no ermo dos pinhais, se preparasse para abusar de alguma delas. Na década de 50, com a II Guerra acabada, já ninguém queria saber do volfrâmio. As mulheres da Paradanta voltaram à agricultura, ou antes, ao trabalho sazonal nos grandes terrenos planos a sul da serra, por conta de proprietários ou