LiteraLivre Vl. 5 - nº 28 – jul./Ago. de 2021
Joedyr Gonçalves Bellas São Gonçalo/R.J.
Meu Pai Contava Histórias Era uma cadeira de balanço, dessas de
toda construída
vime, que eu não vejo mais pela minha
charco, mas a infiltração era somente
cidade.
no meu quarto.
Cadeira que fora do meu avô, talvez do
Meu
meu bisavô também.
mandinga,
Viera junto com a casa, de herança,
desatado na traição, na jura de uma
uma casa ampla, de muitas portas e
encruzilhada.
janelas,
Era Jurema.
tábua
corrida
e
forro
de
pai
em
cima
de
um
falava
que
ali
tinha
tinha
caso
de
amor
madeira, hoje chamam de lambri, nessa
A linda Jurema, de ancas largas, e
época, a gente chamava de forro.
cheiro
Tudo falava nesta casa.
jasmim e rosas. Mas não amava
As tábuas rangendo sob os nossos pés,
Joaquim,
o forro estalando pelo peso do tempo e
enfeitiçara com seu cheiro, sua anca
ao voo de um morcego meio perdido, as
larga e seu jeito de mascar chiclete.
árvores
Jurema não sabia de Joaquim.
e
seus
galhos
gigantes
no
bom o
de
cheirar.
homem
que
Exalava Jurema
quintal fazendo sombra e assustando as
Jurema era de Antônio.
crianças, um reboco meio solto, os
Antônio era amigo de Joaquim, mas
retratos e brasões na parede, um prego
não sabia da paixão desarvorada de
enferrujado, uma infiltração no meu
Joaquim por Joana, e Joana também
quarto que não tinha jeito de acabar
não sabia. Coitada, Joana olhava para
com ela.
Joaquim, mas não o via, não o
Os mais antigos, quase partindo, diziam
enxergava, não sabia da existência
que a casa fora construída em cima de
dele.
um charco
Meu
Está aí explicada a infiltração do meu
dava um trago a mais no cigarro,
quarto, o engraçado é que a casa fora
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pai
parava,
respirava
fundo,