LiteraLivre Vl. 5 - nº 28 – jul./Ago. de 2021
Laura Caldas São Paulo/SP
As pequenininhas e as gigantes Nossas pequenas coisas estão todas aqui A jaboticabeira que herdamos, a sete léguas que só sabe florir, as helicônias que ainda não sabem, a amoreira que segue doente, o manjericão que só sabe crescer, as abelhas que só sabem amar, os sabiás da manhã, as maritacas da tarde e a sorte de vez em quando, dos grilos da noite Nossas pequenas coisas estão todas aqui Nos surpreendem apenas quando num susto se transformam Um dente mole, um fio de cabelo branco, um vento mais gelado, uma noite sem lua, unhas imensas no pé, crianças e plantas que se esticam da noite pro dia, uma foto que cochicha o peso que o tempo tem No entanto, nesses dias de desatenção, nada parece mudar O jornal e o café pra despertar, os sons das falas que se misturam nas múltiplas reuniões que saem de computadores diferentes e dialogam como se falassem, ao mesmo tempo, todos os cômodos da casa A voz alta que acredita ser capaz de trazer pra cá quem tá do outro lado de lá As nossas pequenas coisas nos fazem acreditar que são todas nossas Eternamente Como se nada fosse capaz de alterar Filhos fortes, nosso amor que pulsa, a minha falta de confiança Tá tudo aqui Imutável Teve um dia que desejei que aquele verão durasse mais meses mas o inverno só veio pois era preciso renascer Como as formigas, não importa o veneno, não importa a estação do ano, estão todas aqui
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