LiteraLivre Vl. 5 - nº 28 – jul./Ago. de 2021
Lilian Ney Rio Grande/RS
Escrever é preciso... viver também! Escrevo sobre quase tudo. Muito mais em minha mente do que no papel ou na tela do computador. As coisas que me afogam são as mais urgentes, é preciso nadar rápido para chegar em terra firme. Falar dos amores que não tive e amei intensamente é um exercício que me satisfaz. Será que isso é trair? Não sei. Nem sei lidar direito com essa coisa de traição. Sermos monogâmicos não foi uma boa ideia, coisa de homem, que precisa assegurar-se de suas posses. Lamento que ainda estejamos discutindo essa propriedade “meu-minha”. Mas, não quero entrar nessa questão, daria horas de escrita e está muito frio para ficar na frente do computador digitando linhas e linhas de algo que não levarão a lugar algum, ou levarão? Não sei. Escrevo sobre quase tudo. E de muitas formas. As poesias nascem como flores em meio as tempestades que se formam no fundo de uma taça de vinho. Lá no redemoinho do líquido rubro a deslizar pela garganta preenchendo as minhas solidões. Escrevo poemas porque sofro de transbordamentos e não sei o que
fazer com todo o caos que eles provocam. Escrevo... Algumas vezes me curo como um beijo da mãe no joelho machucado pelo tombo da bicicleta. Outras, a ferida se abre e sangra, expondo o coração a palpitar quase fora do peito. Escrevo sobre quase tudo. Meus gritos de insurgência enchem a página, clamo pela irmã assassinada em sua casa, choro pela mulher morta por exigir seus direitos, suplico que as dores não sejam eternas, rezo sempre para que a violência cesse em todos os lares, ergo a voz para falar das nossas vontades, chamo minhas irmãs e companheiras para seguirmos juntas atravessando o tempo, curando nossas feridas, que elas sejam apenas um joelho esfolado pelo tombo da bicicleta. Escrevo sobre quase tudo. Quase tudo me atinge o peito. Quase tudo é vida que pulsa em meu peito. Quase tudo é muito pouco para escrever. Quase tudo é muito pouco para se viver.
@lilian_ney
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