LiteraLivre Vl. 5 - nº 28 – jul./Ago. de 2021
Amélia Luz Pirapetinga/MG
Carro de Bois O carro de bois chega alegrando com a sua bela cantoria. Som estridente, vazando as manhãs ensolaradas. O candeeiro vai à frente com a sua vara dialogando com a boiada mansa; de calças arregaçadas, chapéu de palha, pés descalços, autoritário e pequeno, quase menino. Do alto, o carreiro imponente comanda, com a vara de ferrão e o chocalho de guizo. O canivete na cinta, o chicote amarrado no fueiro. -Vem Rochedo, endireita Queimado, vai Fumaça, afasta Pintado, vai Tenente, vem Capitão! O facão no bornal de brim e a coragem para vencer desafios. Em baixo, na mesa, a moringa de barro com água da mina, o boião de comida, almoço do dia e a rapadura de sobremesa. Um cachorro acompanha fiel ao seu dono. A canga prende o cabeçalho, o boi aceita humilde na sua missão de obedecer. O canzil atravessando a canga com a brocha, vem para firmar o pescoço do animal com segurança. O cabeçalho é ligado ao corpo do carro cargueiro. Atrelados os bois que puxam, o carro movimenta-se. A mesa do carro é de madeira maciça para durar sob sol e chuva e segurar com firmeza a carga escolhida.
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Junta de cabeçalho, o tambueiro, junta do meio, junta de guia. Vai boiada! A esteira é trançada de bambu o fueiro prende a esteira que leva a carga. O freio é preciso na descida perigosa, o candeeiro é habilidoso, o carreiro firme a comandar autoritário do alto. Pesado de cana-de-açúcar, café em grãos, espigas douradas de milho, cachos de arroz, sacas de feijão ou lenha seca para alimentar o fogão, cargas diversas segue pela estrada da matinha. Quanta utilidade! Desce cauteloso morro abaixo, vem de longe, chorando, sob sol escaldante. O carreiro assobia, comandando com a garganta seca. A casa da moça bonita na beira da estrada é logo reconhecida. O arvoredo, o pequeno jardim, o pomar, a tulha e o galinheiro. Imagens familiares. A boiada para, a moça vem correndo e traz a água fresca na cuia para matar a sede dos visitantes inesperados. Olhos negros, tímidos e fugidios. Pouca conversa e muitas trocas misteriosas. A donzela é morena, cabelos trançados, vestida de chita floral, boca pintada de vermelho, cheirando a perfume barato. Vem um leve descanso.