LiteraLivre Vl. 5 - nº 28 – jul./Ago. de 2021
Eni Ilis São Paulo/SP
Duas coisas admiráveis Duas coisas admiro: a dura lei cobrindo-me e o estrelado céu dentro de mim. (Orides Fontela)
Fantasmo dias sem fim, que se estendem e esgarçam, não se rompem. Até quando? Até quando essa a ladainha? O céu cada vez mais vasto e presente, brilha e nubla, não se esquiva, não se nega. Por que não rompe e nos esmaga? Céu estilhaçado como espelho, continuaria inteiro. Que se tornasse a quebrar e estilhaçar e mais uma vez quebrar e estilhaçar até virar pó! Tanto e nunca seria possível juntá-lo, porque óbvio que se espalharia, leve e ligeiro! Espalharia como os estilhaços se espalham. E tornados pó, então! Cobririam a terra. Ah sim! O céu tornaria a cobrir a terra, mas tão perto, tão entranhado. Se tornaria véu de poeira e mais, seria mistura na terra, estaria mergulhado na água, seria parte do alimento tornado sangue, seria um espalhar infindo. Ah sim! E o que adviria? Sim, porque não se sairia ileso de tal estrondo silente. Ah não! Se a terra e o que nela há fossem
assim
contaminadas
manchadas
misturadas
com
o
céu,
o
que
acarretaria? Quiçá o céu pulverizado continuasse de alguma forma e se reconhecesse e se chamasse. O que aconteceria? Céu restaurado na terra? E a terra? Seria caminho? E ao restaurar o céu, a si também? Será? Ah sim, quem sabe. Não é isso que sempre acontece toda e cada vez que nos admiramos desse céu que não se esquiva, que não se nega? Será?
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