LiteraLivre Vl. 5 - nº 28 – jul./Ago. de 2021
Fabiana Rodrigues Carrijo Catalão/GO
A moça que aprendera na dor a psicografar o amor ou seria ao contrário a preleção?
Era evidente que sempre tivera uma afeição para a dor. Ainda se lembrava de uma infância remota em que ficara continuamente no lugar dos menos favorecidos e daqueles que por esta ou aquela razão pareciam sentir dor. Só tinha naquela ocasião seis anos. E, desde então, tinha uma aptidão para a nostalgia – sinalizada em todos os gostos e dissabores, mais nestes que naqueles. Ela queria poder percorrer a estrada outra, sem padecer tanto e tanto e tanto. Mas esta lição era impossibilíssima, mesmo para aquela que haveria consecutivamente de ser autodidata e deveras disciplinada. A preleção de ‘se doer menos’ não aprenderia!? Gostou daquela (de maneira singular) – certa vez – porque lhe pareceu poder amenizar o seu fado! Achou, prematuramente, que era triste fardo. Até no amor – na ímpar experiência do amor – também descobrira a preleção para a nostálgica e marcante dor! Os rascunhos de si, a escrita de si, a desdita de si exalando consternações
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por todos os lugares possíveis e improváveis! Adorou as músicas do Chopin – desde sempre – por lhe semelharem impregnadas de uma afeição cúmplice para a consternação. Gostou dos tristes textos de Van Gogh para o seu irmão (Théo), porque lhe pareceu já ter conhecido aquela história de uma longa e imprecisa viagem! Amou Emily Dickinson, porque sabiamente lembrara-se de já ter conhecido a ‘Branca voz da solidão’. Aliás, a branca voz da solidão inúmeras vezes lhe indicava seus gostos, seus caminhos, seus tristes e ermos caminhos. Pensara até que feito aquele poeta havia nascido com um ‘ermo dentro do olho’, por isso a tendência para a nostalgia de si, em si, nas coisas e seres do mundo/ (des)mundo. Era queria ter podido viver ‘o antes’ e esquecer. O ‘olvidar’ como lenitivo – para viver outra vez sem as enlaças da solidez de outras e distintas vidas. Ela queria tanto ‘o novamente’! Contudo, descobriu recentemente que para viver ‘o novamente’ teria que