Amália Morgado é funcionária pública de ofício e poeta desde que aprendeu a escrever. Ama flores, as horas crepusculares e percorrer ruínas e fragmentos pelo mundo e dentro de si.
IMPALPÁVEL Será que existem fósseis imateriais? Decerto não. Ah, perguntas de horas mornas, nostálgicas... Mas o que será daquilo que agarro em ânsia Com os dedos trincados? Abro a mão como quem engole seco A esperança E nada tenho. (Talvez eu nunca o tenha possuído Por sequer um instante) As risadas largas, gosto tânico do café, Petit-four encerando de leve O céu da boca, Ou se desmanchando, entre as papilas Abertas e receptivas como flores. Vapores etílicos enlevam o olfato, Ambicionando a mente, elevando a voz E gargalhadas batem sem medo Como ondas na pedra, Levantando impetuosa espuma. Agora O mundo como era acabou E mesmo nosso parco legado cotidiano, Nada diz sobre o que realmente interessa. 25