Primavera. 15 de Maio de 1991. Nasceu André Pereira dos Santos. Julga ele que numa quarta-feira. Vivendo in media res desde então, descobriu o fascínio pelas artes ainda cedo, encontrando cais pela poesia e teatro. Começou a fazer teatro amador em 2009 com o Teatro Contra Senso. Frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e fez o curso de formação de atores no Evoé - Escola de Atores. Escrevendo poesia desde sempre, encontrou agora na prosa e no conto um refúgio para os tempos atuais. Email – dre.p.santos@gmail.com Facebook - https://www.facebook.com/andre.p.santos24/ Instagram - https://www.instagram.com/dre.p.santos
DEMORAS De relance, numa chance única entre as infinitas, reparo nas horas. Demoras. Tens demorado. Ou então é o tempo que secretamente se tem parado. Que jocosamente se tem aproveitado das minhas distrações perenes, voláteis, fúteis. Malabarismos de projeções inúteis que só encontram significância comparadas com esta ânsia absurda de alguma coisa que acuda o vazio. Uma brisa, um arrepio, uma lembrança. Não pedi nada às horas, muito menos uma ínfima ideia de esperança. Esta íntima correia que me cansa, e por isso me vence. Sempre. O céu e a terra são os mesmos de sempre, mesmo que as nuvens me hipnotizem com a diferença das suas formas. Em vão. Juntos, fomos todas as estações, colhemos da terra os raios solares veranis, encontrámos a eloquência do dialeto das chuvas e o significado do hálito evaporado dos dias gélidos. As folhas de Outono, as únicas que sabiam o nosso caminho. Agora, o céu e a terra não têm variantes suficientes, não têm máscaras suficientes, para não terem o rosto da saudade. De relance, numa chance única entre os infinitos, reparo nas horas. Demoras. Sei que demorarás, pelas estações do perpétuo. A saudade gere os ponteiros de uma hora que não passa. O relógio atrasa-se, troça da minha desgraça enquanto aguardo, enquanto lamento, pela hora tardia do esquecimento.
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