FIM ALHEIO – Bernardo Rodrigues Foi no meu aniversário de 12 anos que meu pai recebera a ligação do hospital. Não tinha aula nesse dia, acordei cedo toda elétrica para celebrar essa data, acreditando que ele estaria ali, esperando para me presentear. Eu já sabia o que minha mãe tinha comprado para mim; eles haviam feito o divórcio há 2 anos e eu fiquei morando com ela. Apesar de que adorava viver com minha mãe, encontrar e conviver, mesmo que fosse por poucas horas, ou minutos, com meu pai, havia aí uma sensação de alegria que não entendia na época. Meus sentimentos eram apontados da mesma forma para ambos, mas o jeito que ele me alegrava era diferente; produzia em mim essa vontade absurda de continuar vivendo, como se a morte estaria longe, inalcançável e intocável, que eu riria da ideia de que algum dia ela viria e alguém ou todos nós morreríamos. Mamãe era toda cuidadosa, observava se eu não estava comendo muito depressa, tornava-se infantil para brincar comigo durante pouco tempo, com receio de que isso afetasse a minha adolescência, e me tratava, muitas vezes, como já sendo “grandinha”; papai, por sua vez, tinha uma rebeldia educacional brilhante: transformava tudo em diversão, pegava a sopa que mamãe fazia e segurava a colher longe de mim até que eu respondesse algumas de suas perguntas brincalhonas; e se eu o questionasse acerca de uma 49