LiteraLivre Vl. 5 - nº 27– mai/jun. de 2021
Marione Cristina Richter Venâncio Aires/RS
Santo Moisés O ano era 1954. Em uma casa no interior de uma cidade pequena, uma nova seita havia se criado. Do lado de fora daquela casa era possível ouvir os cânticos e as rezas, e em frente à casa, encontrava-se o prefeito, o delegado e um soldado. Lá dentro com as paredes repletas de imagens de santos e sobre uma mesa o livro de São Cipriano, o “Pai Tonho” fazias suas rezas de cura, motivo este que levava dezenas de fiéis de várias partes excursionarem até aquele retirado lugarejo. Tudo começou uns oito anos antes, quando Antônio, homem devoto, católico, agricultor próspero e influente, pai de 12 filhos, tinha entre eles uma filha com epilepsia. Antônio fez de tudo para encontrar a cura para a enfermidade de sua filha. Além de levála a vários médicos, também recorria às orações do padre, até que um dia, levando-a à capital para buscar novos tratamentos, também buscou um centro espírita, pois àquela altura já acreditava que sua filha estava possuída por alguma entidade maligna. No centro espírita, o médium lhe fez uma revelação, a de que ele era um espírito de luz e havia sido escolhido para receber o espírito do Santo Moisés. Sua filha acabou falecendo, e depois de tudo, Antônio não era mais o mesmo
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homem. Deixou de ir às missas aos domingos, buscou informações e textos sobre exorcismo, conseguiu um livro de São Cipriano e assim surgiu a seita de “Pai Tonho”, o espírito de Santo Moisés. Com sua influência conquistou primeiramente a vizinhança, que compareciam religiosamente em sua casa, na nova seita, ao ponto de se tornarem fanáticos, e foi quando ele começou com as “curas”. Quando sua seita já contava com uma centena de fiéis, padre Bento foi visitá-lo para persuadi-lo a voltar para a igreja. Ignorado por Antônio, ele retornou outro dia com mais dois sacerdotes e acabaram agredidos e expulsos da casa. Depois daquilo o padre os condenou publicamente, considerando a seita como anticristã. Por oito anos o “Novo Moisés” não foi molestado, e neste tempo seus fiéis saíam em excursões pelas fazendas das redondezas na tentativa de atrair novos adeptos, mas quando recebiam a negativa, passaram a usar de violência contra os proprietários. Passaram também a queimar os livretos publicados pelo padre. Intimidados com esta violência, alguns agricultores foram buscar