LiteraLivre Vl. 5 - nº 27– mai/jun. de 2021
Renato Massari Rio de Janeiro/RJ
O Amigo A passos rápidos, a tarde caía cinzenta e
desdita,
a chuva forte que sempre invadia o
encantou-se tanto com Estrugue que
muquifo em que moravam, na periferia
não reclamou da lanterna traseira
da
esquerda reduzida a pó nem dos
grande
cidade,
prometia
não
o
dono
desse
demorar. O pai então pediu à filha e à
fartos
mulher mais agilidade no trabalho de
Enquanto seu motorista, que mais
remoção dos objetos que fatalmente iam
parecia
perder
encarava Saul com olhos de morte,
se
a
água
subisse
muito.
amassados
automóvel
um
o filho mais velho que levara Estrugue
cachorro. Mirando-o embevecido, foi
(cruza de vira-lata com dobermann)
logo dizendo:
para
“Parece um campeão”.
combate.
Se
fosse
vitorioso, como sempre era, o cão da família traria preciosos trocados para a
somente
aluguel,
ele
um
olhos
de
lataria.
Esperavam ansiosos pela volta de Saul,
mais
tinha
matador
na
para
o
“Ele é”, respondeu Saul sem titubear.
compra do angu com salsicha do dia
“Como é que chama?”
seguinte.
“Estrugue. Mais fácil do que falar
Os
primeiros
pingos
grossos
já
Struggle”.
salpicavam os vidros sujos da única
Lentamente
janela do muquifo, mas Saul ainda não
rindo
chegara. Nem poderia. Seu carro de
pertences salvos pelos familiares de
trinta
de
Saul. Com jeito de quem tivesse
ferrugem sobre quatro rodas, tinha se
andado nas nuvens, ele de repente
envolvido num acidente com o veículo
apareceu. Antes que lhe dissessem
estalando de novo de um homem muito
poucas e boas, contou radiante a
rico. Por contingências da sorte ou da
novidade:
anos,
quase
um
monte
205
a
enxurrada
perversamente
conseguira
dos
um
baixava, poucos
ótimo