LiteraLivre Vl. 5 - nº 27– mai/jun. de 2021
Aldenor Pimentel Boa Vista/RR
Assassinatos fora de série A polícia já estava no encalço dele há um tempo. Assassino em série, suas vítimas, somente mulheres, eram encontradas sempre do mesmo jeito: despidas, com uma rosa branca sobre a genitália. Na cena do crime, nenhuma outra pista. Nem digitais, nem pegadas, nem fios de cabelo. Nada que pudesse levar ao responsável. Mas não existe crime perfeito. No dia anterior, uma carta anônima chegara às mãos do delegado, sabe-se lá como. Nela, estava escrito onde e a que horas a polícia poderia dar o flagrante no autor dos assassinatos, que já tinha data e local para fazer a próxima vítima. O lugar não poderia ser mais inusitado: uma biblioteca. Na hora indicada na carta, a equipe de policiais foi lá. Numa sala reservada para estudo individual, arejada e bem iluminada, estava o serial killer, de costas para a porta, diante da vítima que acabara de fazer. Ao ouvir o rangido da porta abrindo, ele ainda digitou em segundos algumas linhas em seu laptop: “Com os olhos em direção à mulher, aspirou levemente o perfume da rosa branca e pensou consigo mesmo que havia encontrado a sua última vítima.” — Tudo bem, policial. Eu me rendo — disse, ainda de costas para a porta, o escritor de enredos repletos de sangue e suspense, solitário no centro daquela sala deserta. Com as mãos para o alto e os olhos na vítima que só existia na tela do computador, ele proferiu sua sentença: — Mas, se eu for preso, quem escreverá o final da história? http://artedealdenorpimentel.blogspot.com.br
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