LiteraLivre Vl. 5 - nº 27– mai/jun. de 2021
Domênico Darone Embu das Artes/SP
Sobre o vazio que ficou Ela mora em Minas Gerais e eu em São Paulo, nos falamos ao telefone todos os dias no período das tardes; sua voz estridente e gostosa sempre domina a conversa. Ela me conta sobre seus ‘pobremas’, das suas dores, doenças, remédios... Eu tento falar com ela sobre livros, séries, filmes e músicas, mas ela não se interessa. Seu gosto musical se define em ouvir aos cantores Amilton Lelo e Barrerito, um cantava música caipira triste e o outro era conhecido como o cantor das andorinhas. Ela também gosta de ouvir Moacyr Franco e Roberto Carlos. Ao telefone falávamos sobre tudo, fazíamos fofocas, ríamos e planejávamos o futuro. Eram horas e mais horas gastas em ligações incessantes. Dia desses eu comentei com ela que queria me casar e que queria ver ela toda linda na cerimônia, mas ela seriamente me respondeu: — Será que eu estarei viva até lá? Conversávamos muito sobre a trajetória de nossas vidas, sobre a própria vida em si e também sobre a morte. Minha mãezinha sempre quis viver, queria aproveitar as coisas boas desta vida, como dormir, comer bem, viajar… Tive que voltar para Minas Gerais e o sofá vazio na sala esfregou na minha face o que estava acontecendo. Mainha que queria tanto viver, morreu.
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