LiteraLivre Vl. 6 - nº 34 – Jul./Ago. de 2022
Lira Vargas Niterói/RJ
Contra o Tempo Percebi na última festa de aniversário
tempo, fiz a primeira plástica, um ano
um zero depois do numeral. Aplausos e
depois outra plástica, e depois uma
brilho nos olhos de meus convidados.
outra reparadora porque a primeira
Uma alegria, que entendi depois que
deu
todos
tinha
envelhecia por dentro, e lá dentro
vencido. Vencido o que? E ganhei o que?
não havia especialista para plastificar.
Naquela noite fui cansada para a cama,
Percebi
olhei meus cabelos como a fiscalizar e
academia para a cirurgia plástica,
percebi que a pintura estava perfeita. Os
para
dias passaram e as linhas em minha
esfoliastes e hidratantes. E a maldita
pele
formas,
frase em cada encontro “nem parece
quadradinhas, retinhas, mas não queria
ter essa idade”. Percebi que a luta
isso pra mim. Corri para a academia de
contra o tempo era desigual e quando
ginástica e falei para o personal trainer ,
estava sozinha, sentia medo, medo
que um exercício urgente para meus
de perder a beleza ou medo de
braços era necessário para tranquilizar-
perder a juventude? Medo de perder
me. Percebi que as pessoas elogiavam
os amigos e minha família. Eu estava
minha beleza como se fosse recente,
errada.
mas finalizavam “nem parece ter essa
comigo
idade” essa frase vinha como agulhas e
continuavam ali, a espera de um novo
espetavam
minha
encontro para um chá. Minha família
alma. Sentia medo de envelhecer e
se dispersando e eu me tornando um
perder meu status, meu emprego, e o
fardo pesado, meus valores estavam
pior, meus amigos. E perdia a cada ano
em
um amigo para a morte! Corria contra o
Minha beleza estava no que desfrutei
foram
dos
embora,
braços
minha
que
eu
tomavam
alma,
sim
97
errado,
que os
não
a
percebia
corrida
revigorantes,
Meus e
quanto
amigos eu
da
colágenos
envelheciam
nem
deixaria
era
que
de
percebia,
herança.