LiteraLivre Vl. 6 - nº 34 – Jul./Ago. de 2022
Plinio Giannasi Regente Feijó/SP
Opostos Sinto-me bem aqui, sentado no banco da praça depois do almoço. Afinal, são apenas trinta minutos para relaxar, longe daquela balbúrdia toda, e fica pertinho do trabalho. A empresa é do meu pai, que na verdade NÃO é meu pai. A vida toda (todos os meus vinte e um anos) evitaram falar sobre minha adoção, e mamãe, que também NÃO é minha mãe, fica agressiva com este assunto. O banco fica debaixo de uma árvore, não muito alta, sem flores, vez ou outra um pássaro. Breve meditação, pensando sobre minha origem. Trago uma garrafa d’água, conselho médico devido a cálculos renais. Agora pela metade, a garrafinha fica aqui abandonada, equilibrando-se num canto do banco. Um Diretor Geral aos vinte e um anos de idade. Sem origem. ... Pedir trocados já não enternece corações endurecidos. Basta andar por aí aos farrapos, alguém sempre socorre com algumas moedas, comida, água. Em seu trajeto, o que tem de diferente é que naquele banco da praça tem uma garrafinha de água que alguém esqueceu. Ela senta pra descansar um pouco naquela sombra, verifica a água, ainda tem quase metade.
149
Ao pegá-la, um despertar. Coração em disparada, pensamentos em órbita, não se reconhece. Bebe até esvaziar a garrafa, que fica ali, no mesmo lugar. Hora de voltar para... Ah, por aí. ... Calor infernal, três da tarde. O sistema informatizado caiu, estamos completamente reféns da internet. Vou sair e me sentar naquele mesmo banco, onde relaxei depois do almoço. Inclusive, creio que esqueci ali a garrafinha com alguma água dentro, politicamente incorreto. Banco vago, sempre, e a garrafinha lá, no mesmo cantinho. Vazia, mas tenho certeza de que ainda tinha água. Ao pegá-la, estranha sensação, coração na garganta, um magnetismo mágico naquele objeto. Mas, é só uma garrafinha d’água. Vazia, fica no mesmo lugar. ... Comércio fechado, por hoje chega. Para ir até a marquise que ela chama de lar, precisa passar pela pracinha, daquela árvore, daquele banco, daquela garrafinha. Aproxima a mão trêmula da garrafa vazia, ao toque, a mesma viagem, agora mais