LiteraLivre Vl. 6 - nº 34 – Jul./Ago. de 2022
Valéria Vanda Xavier Nunes Campina Grande/PB
Violação A palavra certa é violação. A casa de nossa mãe foi violada, violentamente. Era como se ela tivesse sido enterrada pela segunda vez. Num momento estava tudo lá, e, de repente, como num passe de mágica, nada mais estava lá. Tudo que representava a sua e a nossa história tinha sido literalmente roubado. A visão daquela sala limpa, nua e vazia de tudo, foi um choque terrível para todas. Entrar naquele apartamento era como ter um encontro marcado com mamãe e papai novamente. Agora a sensação era a de que eles, de verdade, estavam enterrados para sempre. O sentimento maior era de raiva e de um vazio imenso penetrando no peito no momento em que entramos no apartamento e nos deparamos com aqueles ambientes vazios. Onde estava tudo? Onde andavam as nossas fotos, nossos quadros, nossos biscuits, aquela velha cadeira de balanço onde eles sempre se sentavam para descansar os ossos já velhos; as suas toalhas, os seus lençóis, suas panelas? Nada...nada...nada havia restado. Foi um golpe baixo. Um golpe muito baixo mesmo. Só restou um grande vazio. Vazio físico e vazio interior. A sensação de impotência diante do fato consumado, a tristeza foi muito grande. Mas, a vida é assim mesmo, e cada um tem o seu modo de pensar e agir diante das adversidades que ela nos traz. O fato é que ficamos sem referência no que diz respeito à “casa de mamãe”, pois assim como ela, sua “casa” já não existe mais, pois tudo que foi dela - as nossas referências materiais - estão agora nas mãos de uma estranha; nas mãos de quem não tinha nenhum direto sobre elas. Há quanto tempo nos pertencia aquele conjunto de mantimentos de alumínio com a tampa azul? Crescemos vendo papai e mamãe abrindo aqueles potes. Nunca imaginei que um dia chegaríamos àquele apartamento e não mais veríamos aquela estante enorme cheia de fotos de nossos casamentos, dos os filhos, dos netos. Aquela velha cadeira de balanço no seu lugar de costume, aquela linda tela de Nossa Senhora da Conceição na parede; e as suas inúmeras santinhas. Toda a nossa história de vida estava ali, e ali, tinha de permanecer sempre, naquelas peças de mobília já gastas, porém, nossas - naqueles armários
200