LiteraLivre Vl. 6 - nº 34 – Jul./Ago. de 2022
Ariel Von Ocker
A Porta Para Além Da Porta -No mundo- dizia o professor orgulhoso de parafrasear a Hamlet- há mais coisas do que pode conceber o vislumbre da razão humana.Arthur voou longe ao soar dessa ideia. Cogitou infinitudes que tão só a mente de uma criança é capaz de conceber. -Todavia- seguiu o mestre- a razão teima em tentar compreender o caótico mundo que a rodeia.Novos voos. Novos destinos ignotos. E o tombo tão real e concreto de um mundo que era pitoresco e duro, como o asfalto e o cimento aquecidos pelo sol das onze horas. Arthur olhou a rua além da janela da sala de aula. O jardim brilhava verde e florido, como é nas escolas primárias. Além da mureta, a calçada e o asfalto. Carros passavam e o menino não poderia supor para onde iam tantas pessoas em um mundo esmagadoramente grande. -Nesse intento-prosseguia o homemnossa filosofia busca encadear logicamente os fatos de um mundo em desordem...A tudo isso ouvindo...qual
Arthur ia ouvindo, e num sonho onde as
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palavras perdem gradualmente seu som e seu sentido. Em algum lugar, um pintor esfumou as cores de sua tela, apagando, assim, os limites do que era uma coisa e o que era outra. Foi então que o menino viu: oblíqua, desnuda, absurda, indelével, impossível...a porta que se abria não para fora da saleta fria repleta de carteiras, mas ela: uma porta para o infinito. Parecia-lhe loucura, malgrado fosse real. Via ali mesmo o abismo do Universo além da porta branca da escola. Arthur coçou os olhos em descrédito. Voltou a olhar. Além da madeira retangular, haviam hostes inefáveis de estrelas profusamente vagueantes num espaço negro, abissal e infindável. Astros globulares voavam de um canto a outro e ângulos indescritíveis circundavam esferas cuja consistência era imprevisível. A mera visão daquilo era terrivelmente estarrecedora, não porque provocasse propriamente o terror, mas porque ali corria livre e destemido tudo aquilo que nos faz pequenos e insignificantes perante Ele: o Eterno, o Cosmos, o Ilimitado.