LiteraLivre Vl. 6 - nº 34 – Jul./Ago. de 2022
Joedyr Bellas São Gonçalo/RJ
Um Dia A Mais, Um Dia A Menos O homem pediu uma cerveja e um conhaque. O bar está cheio. Não diria lotado, mas cheio. Uma mulher, sentada em um banquinho, canta macio acompanhada de um pianista. A voz é tranquila e rola num tom suave. As notas fluem mansamente. O bar segue sua rotina de ser bar. Um falatório dos diabos, vozes se confundindo, e cada pessoa vai vendendo seu peixe, minha mãe, quando o falatório era grande dentro de casa, e ela queria um pouco de sossego para um cochilo depois do almoço, berrava pedindo silêncio e emendava logo com um isso aqui tá parecendo um mercado de peixe e cada pessoa vai vendendo o seu peixe. As palavras vão se misturando. O homem que pediu uma cerveja e um conhaque esboça um sorriso. Ele está só. A modernidade, os tempos modernos, não permite que uma pessoa ande sozinho um segundo sequer, e eu estranho o homem solitário bebendo sua cerveja e seu conhaque. Não acho estranho por estar bebendo cerveja e conhaque. Ele termina de beber um copo de cerveja e tranquilamente dá uma bicada no conhaque para em seguida encher o copo de cerveja e repetir o ritual. Um copo de cerveja e uma bicada no conhaque. Isso não me causa estranheza, o que me chama a atenção é o fato de ele estar sozinho em um século que exige que as pessoas andem acompanhadas. Andem acompanhadas e falem ao mesmo tampo. As pessoas vão falando. Em uma mesa, mais adiante da minha, um casal, entre uma mensagem e outra no celular, falam qualquer coisa e riem sem tirar os olhos do celular. As pessoas não param de rir. Nem de falar. Eu olho pra minha mulher e falo pra ela que preciso ir ao banheiro e que, talvez, na volta, eu peça ao pianista e à cantora para tocarem a nossa música. Ela não
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