LiteraLivre Vl. 6 - nº 34 – Jul./Ago. de 2022
José Manuel Neves Almada/Portugal
Os fósforos esquecidos Na sala o silêncio era pesado No palco, o drama envolvia. A actriz lia a carta do pecado E a sua mão, de prazer tremia. Ouvem-se passos. Alguém a chegar. A carta tem de desaparecer já. Procura fósforos para a queimar, Mas alguém esqueceu de os pôr lá. Toma uma decisão apressada, Rasga a carta em muitos pedaços E atira os pedaços da carta rasgada Para o cinzeiro e cruza os braços. Abre-se a porta na esquerda baixa Entra o marido a fungar desconfiado Olha o cinzeiro e altera a deixa: “Cheira-me aqui a papel rasgado”. Ela olha-o sem saber o que dizer. A representação está condenada. No palco o drama acabou de morrer Na sala, a assistência ri à gargalhada.
https://joseneves.tambemescrevo.com/
89