Meu Itinerário Espiritual, vol 2 - Plinio Corrêa de Oliveira

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A ascese para afirmar sua varonilidade sem transformar-se num “Esaú” A ideia de que a minha placidez participava de uma lacuna, ou era uma lacuna de temperamento, me veio quando era menino, e se prolongou até eu ficar mocinho. A isso se acrescentava a ideia de que era uma lacuna muito depreciativa. Porque naquela época os sexos viviam muito separados, e os moços e as moças, quando não eram parentes e não tinham convívio doméstico, só se encontravam em festas e em reuniões. Nos ambientes de homens, havia uma espécie de culto muito explicável da varonilidade. Essa varonilidade era entendida como um conjunto de maneiras, gestos, impulsos, resoluções, conjunto este marcado por um grande individualismo e uma grande independência de espírito que se provava desafiando continuamente as ideias antigas. De maneira que, para dar provas de um espírito inteiramente másculo – dizia-se “espírito emancipado” –, era preciso ter ideias completamente revolucionárias. E era preciso manifestar isto por meio de impulsos temperamentais. Por exemplo, a proclamação de que o sujeito é ateu devia se fazer com voz grossa: “Eu sou ateu”. Isto como que fazia estremecer as nuvens. Já a proclamação de que o sujeito tem Fé católica fazia-se com os acordes da voz humana afim com o órgão, se quiserem. Era por isso que a minha placidez temperamental me tornava sem graça, de pouco relevo e de pouca consequência. De maneira que era preciso encorpar esse meu modo de ser, para que pudesse ter algum realce. Percebia que, do lado intelectivo, me tomavam em conta de pessoa inteligente, não pouco até. Mas desse lado temperamental, sem consequência. E achava, e até hoje acho, que ser tomado com consequência pela vontade é uma coisa muito mais nobre do que ser tomado com consequência pela inteligência. Porque a inteligência, a pessoa tem aquela com que nasceu. Já a vontade, é a própria pessoa quem a modela. E, sob este aspecto, a vontade é muito mais nobre do que a inteligência. Ficava muitíssimo tentado a tomar a minha natural placidez e manipulá-la de maneira a dar num homem do estilo de meus colegas. Eu poderia ter-me feito assim, desde que, por oportunismo, deixasse o meu natural, e fabricasse em mim um natural que não tenho. Podia se tornar em mim uma segunda natureza, desde que tivesse horror a ser aquilo que tinha sido. Mas o resultado é que, se agisse assim, falsearia toda a minha vida espiritual. 26

MEU ITINERÁRIO ESPIRITUAL


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“As vozes não mentiram”

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pages 238-254

A graça de Genazzano

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pages 234-237

O temor martirizante de não estar correspondendo ao chamado de Nossa Senhora

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A paternidade espiritual do fundador

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O receio de ter seguido uma via não desejada por Nossa Senhora

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Consagração a Nossa Senhora nas mãos do fundador Adendo do compilador

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Os discípulos devem discernir o “unum” do espírito do fundador

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O fundador deve ser um símbolo vivo de sua obra

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Pela originalidade de seu carisma, o fundador tem que ser seu próprio formador

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O modo de fazer a ação de graças após a recepção da Sagrada Comunhão

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A desconfiança e a severidade em relação a si mesmo

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O espírito de sacrifício até o holocausto e o desejo de reparação

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a combatividade contra-revolucionárias

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O modo de rezar e pedir

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O amigo da Cruz que se prepara para carregá-la prevendo a dor

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O senso da honra católica

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A reversibilidade do “tal enquanto tal”

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A procura do sublime e do sacral

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O espírito aristocrático

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A “luz primordial” resumitiva

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Os componentes essenciais desse “unum”

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A castidade

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A identificação com a Contra-Revolução

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O “unum” da alma de quem foi chamado a simbolizar a Contra-Revolução

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Papel do filão “eliático” na história

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O reconhecimento do caráter profético dessa missão

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Entusiasmo pelo Profeta Elias e o zelo pela causa de Deus

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Devoção a Nossa Senhora do Carmo

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O receio de ter que assumir a liderança da Contra-Revolução

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Novamente escrúpulos e a provação axiológica

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A pior provação: ser perseguido por aqueles mesmos que se quis servir

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O “grupinho do Plinio”: Jó em cima do monturo

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A degringolada como vingança pelo livro “Em Defesa da Ação Católica”

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da Ação Católica de São Paulo

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Um novo e elevado patamar após a leitura do “Tratado da Verdadeira Devoção” e a consagração a Nossa Senhora como escravo de amor

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pages 69-73

Firma-se o ideal de dedicação integral pela opção do celibato – Choque com um veio de mediocridade no seio das Congregações Marianas

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O combate ao orgulho

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Os frutos da leitura do livro “A alma de todo apostolado”

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pages 63-65

Um quiproquó a partir da leitura da “História de uma alma”

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page 83

A leitura da “História de uma alma” e a aspiração à santidade

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com a superficialidade e a brincadeira

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A ruptura definitiva com o mundo revolucionário

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Algumas renúncias fundamentais

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A terrível cruz da incompreensão e do isolamento total

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A ascese para afirmar sua varonilidade sem transformar-se num “Esaú”

2min
page 27

Desenvolvimento da vida de piedade

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pages 44-45
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