candelabro, foi posto no alqueire, e nós passamos para um período que se pode chamar de clandestinidade, de maquis; porque nós passamos de situação para oposição, e de governo para o que os ingleses chamam de governo de sombra, quer dizer, uma situação muito cruel229. A batalha baixou um pouco e eu fui, com Dr. Paulo Barros de Ulhôa Cintra e com outros do Grupo, passar uns dias de repouso na fazenda dos jesuítas em Itaici. Lá estando, recebi uma chamada interurbana do Cônego Mayer comunicando-me o conteúdo de uma carta de Dom José a ele, na qual dizia que dentro de poucos meses renovaria a Junta Arquidiocesana da Ação Católica, e que pedia então para comunicar a mim que as nossas funções cessariam no dia tanto. Era a decapitação230. O “grupinho do Plinio”: Jó em cima do monturo A noite densa de um ostracismo pesado, completo, intérmino, baixou sobre aqueles meus amigos que continuaram fiéis ao livro. O esquecimento e olvido nos envolveram, quando ainda estávamos na flor da idade: era este o sacrifício previsto e consentido231. Quando os primeiros 10 ou os primeiros 20 seguidores se reuniram em torno de mim, eu era um homem muito conhecido, e os que vinham eram muito novos, mais moços do que eu 20 ou mais anos, portanto sem ter tido tempo de se tornarem conhecidos. E como era o único conhecido do grupo, e o mais velho, o natural era eles chamarem o grupo do quê? Não tinha nome ainda, não chamava “Tradição, Família, Propriedade” nem nada, era um grupo de rapazes que se reunia na rua Martim Francisco. Uma tia minha espirituosamente chamava esse grupo de “o Clubinho”, ou “o Clubinho do Plinio”. Mas desde logo a detração começou a trabalhar, e começou a dar a essa designação (“o grupo do Plinio”) a conotação de um grupelho no sentido pejorativo que a palavra “grupelho” tem na língua portuguesa. E então o “grupelho do Plinio” era um grupelho ridiculamente pequeno, que 229 Palestra sobre Memórias (VII) 12/8/54 230 SD 31/3/79. – A situação de Dr. Plinio viu-se agravada pelo fato de que foi demitido do cargo de advogado da Cúria – que era o único cliente de seu escritório – e do governo ter suprimido o Colégio Universitário da Faculdade de Direito, da qual era professor. Ele então se viu obrigado, para continuar a receber seu ordenado, a lecionar em um colégio estadual. Concomitantemente, o sucessor de Dom José Gaspar na Arquidiocese de S. Paulo, Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, demitiu o Cônego Mayer de seu cargo de Vigário-Geral e o nomeou vigário de uma paróquia na periferia da cidade. 231 “Kamikaze”, Folha de S. Paulo, 15/02/69. 96
MEU ITINERÁRIO ESPIRITUAL