A revolução da VPR, a Vanguarda Popular Revolucionária

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Capítulo XIV

PROBLEMAS INVISÍVEIS: classe, gênero e raça Embora Lamarca falasse na criação de uma nova moral revolucionária, seu limite era falar de um “novo homem”, a partir de uma difusa influência de Trotsky em suas leituras. Mas estava longe de refletir sobre a “nova mulher”. Mesmo sendo a VPR tão assentada no trabalho feminino, pouco se falou das dificuldades que enfrentavam mulheres e gays naquela organização. Ela não existiu sem fortes e bravas mulheres, foi comandada por dois homens gays, não foi capaz de produzir uma reflexão sobre esses temas, e jamais deu condições para que os militantes tenham tornado públicas sua orientação sexual.

Diversidade real, práticas machistas e patriarcais e preconceito de classe A descrição corriqueira da VPR, inclusive por parte de alguns militantes, busca associá-la ao militarismo. Com isso, se reforça a ideia de hierarquia, autoritarismo, hombridade. Na fala dos homens militantes, sobretudo em suas memórias, raramente encontramos relatos sobre como as mulheres eram tratadas no movimento. Da mesma forma, a situação homossexual1 de alguns militantes permanece um tabu, é assunto sobre o qual não se fala, embora seja questão relevante. E se formos além, poucos refletiram sobre questões que envolviam a subjetividade na luta, pois os que fizeram muitas vezes foram considerados “desbundados”, termo ofensivo, que indica que a pessoa foi fraca, teve “desvio ideológico”. Mas era incorporado pelos militantes. Não é verdadeira, entretanto, qualquer versão que simplesmente exalte a VPR por ter “permitido mulheres no comando” como se isso fosse fruto no avanço de uma posição feminista. Entendemos, por outro lado, que a organização foi permeada por um recorte interno de preconceitos de classe. Ou seja, retoma-se aqui o debate sobre “pau pra toda obra x intelectuais”; “bang-bang x blá-blá-blá”. Em termos mais elaborados, 1

Não tenho registro de algum caso de homossexualidade feminina na organização, por isso, tratarei apenas a masculina.

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ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS

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pages 343-346

A apuração oficial da Operação Juriti

9min
pages 321-328

REFERÊNCIAS

10min
pages 333-342

O deboche da paquera

9min
pages 309-315

As lembranças de Aluízio Palmar

4min
pages 316-320

CONCLUSÕES

6min
pages 329-332

Aristóbulo del Valle

15min
pages 300-308

A súplica de Cristóvão da Silva Ribeiro

3min
pages 298-299

Relatórios sobre militantes no Chile

5min
pages 295-297

A questão racial demarcada pela repressão

7min
pages 273-277

A Frente Política Ideológica

5min
pages 281-283

Gilberto Faria Lima e Cerveira

5min
pages 278-280

Iara Iavelberg e outras companheiras

10min
pages 267-272

Os Doze pontos e Guillen

19min
pages 284-294

A luta como lugar de macho

3min
pages 265-266

Sexualidade na vida clandestina

5min
pages 262-264

Questões existenciais?

3min
pages 260-261

Capítulo XIV - PROBLEMAS INVISÍVEIS: classe, gênero e raça Diversidade real, práticas machistas e patriarcais e preconceito de classe

1min
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Um epílogo para Lamarca

8min
pages 253-258

A autocrítica de Herbert Daniel

10min
pages 247-252

O desligamento: Lamarca em seu nome e de Iara

6min
pages 240-243

Novos comunicados: a dissolução

4min
pages 244-246

Quem são os militantes

3min
pages 228-229

Os conflitos com Lamarca

7min
pages 236-239

Inquérito 162/70

15min
pages 216-227

A prisão do Comando Juarez de Brito

7min
pages 230-234

As denúncias de torturas

4min
pages 213-215

Triste destino

1min
page 212

O caso do embaixador suíço

13min
pages 204-211

O sequestro do embaixador alemão

6min
pages 200-203

O rápido sequestro do cônsul japonês em São Paulo

5min
pages 197-199

O sequestro do embaixador estadunidense

3min
pages 194-196

Capítulo - XI - OS SEQUESTROS E A VPR

1min
page 191

O caso da Pesqueira: um “lugar para Lamarca”

25min
pages 174-190

Os sequestros no Brasil

3min
pages 192-193

A grande fuga

5min
pages 171-173

A área de treinamentos

6min
pages 166-170

Estudos preliminares

3min
pages 164-165

O centro de treinamento no Vale da Ribeira

1min
page 163

Situação da VPR

6min
pages 153-156

Inteligência revolucionária

6min
pages 157-162

Classe média na revolução

3min
pages 151-152

A delação de Claudio de Souza Ribeiro

4min
pages 146-148

O setor médico da VPR

3min
pages 149-150

Comportamento na prisão: o julgamento dos compas Capítulo IX - CONTRARREVOLUÇÃO, CONFLITOS INTERNOS, E CLASSES MEDIAS

15min
pages 132-141

Conter a desordem, novas resoluções e novas delações

6min
pages 142-145

Depoimentos de Maria do Carmo Brito e Jamil

10min
pages 126-131

Não se fala, mas se pensa sobre a tortura

5min
pages 123-125

Críticas do racha da companheira Iara

8min
pages 103-108

Imprensa e prisões

8min
pages 118-122

Regras de segurança Capítulo VIII - O TERRORISMO DE ESTADO SE IMPÕE: prisões, torturas e seu imenso impacto

10min
pages 110-117

A vanguarda se impõe

5min
pages 100-102

Uma base operária

1min
page 99

A criação da VAR-Palmares

12min
pages 92-98

O cofre: sorte e revés

3min
pages 90-91

Caminhos da vanguarda

4min
pages 56-58

Materialistas com espírito revolucionário

4min
pages 72-74

Um, dois, três, muitos estudantes

10min
pages 65-70

Grupo de Osasco a classe trabalhadora da VPR

10min
pages 59-64

Capítulo VI - ANO DE LUTAS, FUSÃO E RACHA

1min
page 89

Do quartel à clandestinidade

11min
pages 81-88

Fanzines

1min
page 71

Recompondo algumas das controvérsias iniciais

5min
pages 41-43

As vozes de alguns de seus militantes

10min
pages 35-40

A esquerda revolucionária

3min
pages 48-49

Breve linha do tempo

3min
pages 44-46

Caminhos da guerrilha

5min
pages 53-55

A discussão na VPR

4min
pages 50-52

Capítulo III - AS FORMAS DE LUTA E DA REVOLUÇÃO

1min
page 47

“Ousar lembrar”

2min
pages 25-26
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