Capítulo VI
ANO DE LUTAS, FUSÃO E RACHA É preciso estudarmos e estamos sentindo que o capitalismo não está queimando seus últimos cartuchos. Até 64 a economia brasileira caminhou desordenadamente mas a partir daí, começou a se organizar, a traçar planos e hoje caminha mais ou menos visando atender as necessidades para a manutenção do sistema 1.
Nos primeiros meses de 1969 foram pelo menos quatro grandes ações dos grupos de luta armada: em janeiro, a deserção de Carlos Lamarca na fuga do Quartel de Quintaúna, com as armas; o roubo do cofre de Ademar, no dia 18/7/1969; o sequestro do embaixador estadunidense Charles Burke Elbrick, em 2/9/1969, realizado pela ALN; o Congresso de criação da VAR-Palmares. Todos eles no epicentro do país naquele momento, o Rio de Janeiro (estado da Guanabara). Tudo isso desencadearia a ira da repressão, mas não impediria que 1970 fosse o ano da experiência concreta do campo de treinamento no Vale da Ribeira. Esse campo seria também fruto e resultado das divergências de concepção sobre organização da luta. A obra de Luís Mir chama atenção para o fato de que o Congresso de Teresópolis foi realizado ao mesmo tempo em que a ALN estava fazendo o sequestro do embaixador estadunidense. Isso implicou vários problemas, já que a cidade ficou absolutamente cercada e controlada por policiais: “em caso de revista, nos carros havia armas, documentos falsos, materiais políticos para ser discutidos”. Inclusive, o carro em que estava Lamarca foi parado, e superou “em condições dramáticas uma barreira”. 2 A própria ida de Lamarca para o congresso foi muito complicada, usou como uma das proteções uma mulher (Jovelina) com um filho de 50 dias sentados no banco ao seu lado, o que ajudou a despistar os policiais. Momentos tensos, de sorte, atos muito arriscados. Muitas quedas de militantes se dariam em 1969, sendo que a VPR foi diretamente atingida, sendo inclusive Onofre Pinto preso, e vários 1
Razões que determinaram meu desligamento da O. 1/7/1969, Basilio (Bacuri) MIR, Luis. A revolução impossível. A esquerda e a luta armada no Brasil. SP, Círculo do livro, 1994, p. 481. 2
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