Revista de Extensão do IFNMG
Correção das resenhas produzidas pelos recuperandos da APAC – Januária participantes do projeto Remição pela leitura.
Oficina de leitura do projeto Remição pela leitura.
Pedro Pimenta
odo de maio a dezembro de 2019, foram realizadas oficinas com 16 recuperandos, sempre na perspectiva de levar os participantes a transformarem sua relação com a leitura e a escrita, utilizando-as como meio para acessar a liberdade. Durante a preparação da equipe executora do projeto, uma das preocupações foi entender o papel da escrita e da leitura num ambiente complexo como a prisão, já que as imagens idealizadas sobre leitura correntes na sociedade não se encaixavam naquele contexto. Algumas perguntas surgiram dessa discussão: como inserir o livro no limitado espaço prisional, como torná-lo relevante para aqueles homens? Com essas inquietações, a equipe executora se imbuiu do desafio de mediar a leitura, de modo a transformar os livros em uma espécie de janela para o mundo interior. Entretanto, para que essa ideia se tornasse uma realidade, seria preciso que as oficinas apresentassem o livro como um aliado e não como símbolo das limitações dos recuperandos, o que demandou um processo de triagem de títulos adequados ao ambiente prisional (pois a instituição veta alguns temas, tramas e alguns autores) e ao nível de proficiência deles. Com o cuidado, nesse último caso, que as obras escolhidas não trouxessem enredos infantilizados ou demasiadamente adaptados. Na avaliação da equipe executora, por mais que a participação fosse influenciada pela diminuição de pena (quatro dias descontados a cada resenha aprovada), havia o temor de que os recuperandos não se interessassem, ou que desistissem diante dos primeiros obstáculos. Por esse motivo, as oficinas deveriam promover o encontro entre o livro e o leitor e precisariam partir do básico: a histórias da vida de cada um levariam às narrativas ficcionais, essas conduziriam à reflexão sobre atitudes e valores das personagens e a reflexão motivaria a escrita. Ao
fim desse processo ideal, ocorreria a remição. O caminho a ser trilhado era complexo, como indicou o levantamento feito pela equipe pedagógica da instituição, segundo o qual cerca de 80% dos recuperandos inscritos no projeto tinham livros à disposição nas celas (especialmente a Bíblia); porém, apenas 40% deles gostavam de lê-los. Esse dado se concretizou nas primeiras oficinas: era comum ouvir relatos dos participantes sobre medo de não chegar ao final do livro, de não entender a
história, de não conseguir escrever as resenhas, de não compreender o sentido das palavras, vergonha pelas letras ruins. Contudo, o maior receio deles era que a comissão que avalia os trabalhos não aceitasse os textos produzidos. Em suma, medo de mais uma reprovação, uma nova “condenação”. Após essa fase inicial, as oficinas passaram a contemplar o relato oral das experiências de leitura, sempre associadas às experiências de vida e à realidade da prisão. A partir do momento em que os recuperandos 85