LiteraLivre Vl. 4 - nº 23 – Set./Out. de 2020
Joedyr G Bellas São Gonçalo/RJ
Bolo de chocolate
O blues tocava alto na vitrola. Eu olhava pra mim no espelho do banheiro e até entendia as minhas rugas, as minhas marcas dos passos marcados numa terra que nem sempre me acolhera. Mas eu não me importava. Nunca me importei, o grande barato é ir enfiando o pé no asfalto e que se dane o resto. E digo asfalto porque a vida mudou e muito. Sou do tempo que a gente andava na terra, pisava na lama, quando chovia, e o barro grudava na sola do sapato. Havia bonde e borboletas. Que tempo foi esse? Não passo mais batom nos lábios nem marco o meu olho com lápis preto. Cansei de ser Cleópatra. O blues ia alto, como podia ser um samba ou um baião, às vezes, o vizinho coloca um funk a todo vapor e danço como se ainda fosse uma garotinha de uns
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