LiteraLivre Vl. 4 - nº 23 – Set./Out. de 2020
Renata de Lima Santo André/SP
Cuidado, Frágil! Era uma noite de sábado. O jantar quase pronto ao forno, alastrava o aroma de especiarias pela casa. Os pratos estavam empilhados no armário e disputavam entre si quem era o favorito da mulher. O de plástico cor-de-rosa disse: - Eu posso não ser de vidro, mas estou presente em todos os cafés da manhã. – Os demais pratos de plástico, já velhinhos e riscados, aplaudiram e assobiaram aos pulos. - Ah, limite-se à sua insignificância, meu bem. – disse o elegante prato verde de porcelana e com detalhes em relevo na borda. – Claramente eu sou o favorito dela, já que sou escolhido nas melhores refeições – risotos, camarões e lasanhas; enquanto vocês só veem o café com leite aguado e o pão amanhecido. Para mim ela se perfuma e penteia os cabelos. Para vocês, o que resta é o bafo matinal. Amuados, os pratos de plástico não tinham argumentos. O outro tinha razão. A mulher veio ao armário e escolheu o prato de porcelana. Ele se pavoneou todo e se pôs a gargalhar. Em um escorregão, a mulher se desequilibrou e o belo prato escorregou de suas mãos. A porcelana se espatifou em dezenas de pedaços. A soberba precedeu sua queda.
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