LiteraLivre Vl. 4 - nº 23 – Set./Out. de 2020
Sonia Regina Rocha Rodrigues Santos/SP
Hotel Bela Vista Situado as margens do Tâmisa, o hotel Bela Vista não é exatamente luxuoso. Confortável, oferece excelentes acomodações pelo preço da diária e tem fama de ser mal assombrado. Por quem? Por mim, cronista do The Times, dado como desaparecido durante a Guerra dos Seis Dias. Lembram-se dela? Na realidade, morri anônimo, em um dos quartos desse hotel. Não sou um desses fantasmas que arrastam correntes e ficam pela terra a expiar os seus crimes. Não, sou um escritor, apegado à terra pela absoluta curiosidade de espiar as vidas alheias. A vida, garanto, ganha longe da ficção. De rotina, assisto entediado as conversas fúteis dos turistas. No entanto, no último mês, aconteceram três visitas curiosas, ou pelo menos interessantes o suficiente para estimular meu desejo de voltar a escrever e colocar uma roupagem mais elegante nos dramas e comédias dessas pessoas comuns. A primeira reserva - 1 de outubro Ele, um homem de aproximadamente quarenta anos, aproximou-se da janela para fechar as cortinas. Por um breve instante, teve diante dos olhos a visão do rio e do Parlamento de Londres na outra margem. Da maleta que jogou sobre a cama ele tirou o indispensável: a navalha novinha em folha.
203