LiteraLivre Vl. 4 - nº 23 – Set./Out. de 2020
Aldenor Pimentel Boa Vista/RR
Em construção
Tijolo por tijolo, as paredes eram levantadas. Ninguém sabia ao certo que construção era aquela, nem pra que servia. A cada dia, mais seixo, areia e cimento. Em algumas semanas, esboçava-se alguma coisa. Aos poucos, a obra saía do papel e as pessoas se aglomeravam para dar espaço ao empreendimento que por ali se delineava. Alguns diziam que, pela espessura da parede, o novo prédio só poderia ser para abrigar feras selvagens e evitar que elas ameaçassem a segurança do povoado. Ao passo que a construção parecia chegar perto do fim, as pessoas se sentiam mais seguras. Contudo, havia algo estranho ali. Ao menos, foi o que passou a desconfiar um pequeno grupo entre eles. A obra, que se acreditava ser construída para longe, agora avançava na direção do povoado. Quando percebeu isso, a multidão apavorada começou a correr no sentido contrário, mas as paredes, de repente, passaram a ser levantadas em ritmo acelerado. Não havia como fugir. Estavam encurralados. O espaço não era tão amplo como se pensava no começo e, cada vez mais, as pessoas se espremiam umas às outras. O que antes aparentava ser erguido para a segurança de todos, agora lhes restringia a liberdade. O vão entre as duas pontas da muralha de concreto, construída em formato circular, foi fechado por uma porta fabricada com uma única peça de ferro. Depois de trancar a porta da fortaleza pelo lado de dentro, o pedreiro engoliu a chave e teve prisão de ventre perpétua.
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